Colunistas

A Bananeira

Estou na minha praia para passar alguns dias e, embora seja a semana anterior ao Carnaval, há poucas pessoas. As casas, na sua maioria, estão fechadas; já no fim de semana, no entanto, para o Carnaval, vão se abrir e ficar cheias de gente. Mas durante a semana, a praia tem um ar tépido e provoca certo nó na alma forçando uma rotina que aborrece.

Nesse tédio, nessa falta do que fazer vou me deixando levar com algumas leituras e caminhadas. E como está suja e mal cuidada a minha praia! O lixo é jogado na frente das casas e custa para ser recolhido. As ruas estão esburacadas, dando impressão – se não fosse o imposto recebido religiosamente no início de janeiro – de que o prefeito esqueceu-se dos veranistas.

E é pela janela do meu quarto, atrás do muro do vizinho, que vejo três folhas de bananeiras. Ano passado também havia notado suas presenças. Esse ano, quando cheguei, pareceu-me que não estavam ali; mas foram despontando, meio tímidas, por detrás da parede e, a cada dia, percebo que crescem.

Curioso, fui investigar e aprendi que a bananeira é “grande erva da família das musáceas, cujas folhas, amplas, têm bainhas que se enrolam umas nas outras, formando um pseudocaule, e cujo verdadeiro caule é um rizoma subterrâneo, que dá origem a novas bananeiras. As flores, e depois os frutos, dispõem-se em cachos; os frutos, saborosos, e de grande poder alimentício, são bagas, cujas sementes já não existem”.

Também descobri que um pé de banana produz um cacho e, depois da colheita, o caule é cortado, para surgimento de novas mudas. As folhas que vejo pela minha janela – deduzo – não são as mesmas do ano passado.

Engraçado é o jeito das folhas no seu movimento impulsionadas pelo vento. Parecem, por vezes, que estão num balé compassado, ora se virando para um lado, ora para outro.
Uma delas no seu topo tem uma espécie de “biquinho” parecendo um passarinho; logo abaixo, destacadas, aparecem duas “mãozinhas” que ficam como a implorar alguma dádiva do vento.

A outra folha, mais alta, parece um sacerdote de costas para os fiéis, com um manto verde clerical, em ritmado e repetitivo comportamento circunflexo, como se estivesse celebrando a eucaristia.

A folha do meio também apresenta a silhueta de um passarinho; balança-se, entretanto, de forma mais lenta, talvez por ser menor, talvez por estar imiscuída entre as duas maiores que parecem protegê-la. E fico da minha janela, encostado à cama, distraído a observar e a gastar o meu tempo, meio que hipnotizado com o “balé” das folhas, pois pouco ou nada me resta além disso, neste entardecer mormacento de quase fim de verão.

No ano que vem – se voltar – certamente haverá outras folhas, porque o caule subterrâneo é que dá novas bananeiras, se bem aprendi com o Mestre Aurélio.

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