A Gênese – ou, foi ali que tudo começou - Litoralmania ®
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A Gênese – ou, foi ali que tudo começou

No princípio criou Deus os céus e a terra”. (Gênesis 1:1)
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra.” (Gênesis 1:26)
Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1:27)
No princípio era apenas uma bucólica praça. Cercaram-na os prédios e, na metade segunda do 20º Século DC, subjugou-se às forças da horda que dela se apropriou. Será que Deus viu que isso era bom? – (Manuscrito anônimo num pergaminho encontrado ao pé do busto do Dr. Florêncio Ygartua).

A Rua 24 de Outubro, em outros tempos chamada Estrada da Aldeia dos Anjos, era caminho dos viajantes que por ali passavam em mulas e cavalos, dos peões tocando a boiada, carreteiros a transportar víveres, charque, arroz, feijão, batata, milho, hortaliças. Era a estrada natural daqueles que seguiam rumo a Gravataí, à época conhecida como a Aldeia dos Anjos. O final do século XIX se aproximava. Porto Alegre, aos poucos, se expandia em direção ao norte.

Com a construção de moinhos de vento nos arredores da Estrada da Aldeia, esse caminho conquistou importância estratégica e econômica na vida da pequena comuna no despertar do século XX. Porto Alegre contava, então, com cerca de setenta mil habitantes.

Produtos oriundos do comércio de Rio Grande ou das charqueadas de Pelotas passavam por Porto Alegre e seguiam para Gravataí; alcançavam a freguesia da Miraguaia, Santo Antônio da Patrulha, Tramandaí e, após, rumavam a Torres, Laguna e daí para outras vilas de Santa Catarina.

Por ser um lugar apropriado, com boa sombra, presume-se que, no início da Estrada da Aldeia, os viajadores que se dirigiam ou vinham dos lados da Aldeia dos Anjos aproveitavam para descansar e dar de beber e de comer aos animais, preparando-os para as jornadas que ainda iriam enfrentar.

Esse local era exatamente onde hoje se situa a confluência da Avenida Independência, ruas Mostardeiro, 24 de Outubro e Ramiro Barcelos. Nascia, ali, a Praça Júlio de Castilhos, cujo nome fora dado, de forma espontânea, em homenagem ao político positivista.

Na virada do século XX a Praça recebeu roupa nova. Tornou-se atraente e, em 1904, foi protegida e cercada com gradil. Hoje existe apenas uma singela placa no seu solo que, de forma concisa, indica: “Fundada em 1890”. A data foi “eleita” pelo hospital que “adotou” a Praça. Mas não há qualquer registro oficial da instituição da Praça. Ela surgiu na condição de filha bastarda da pequena comuna, sem certidão de nascimento; hoje, mais do que centenária, serve de referência à cidade.

O entorno da Praça cresceu e modernizou-se; as primeiras construções de prédios ali surgiram. Em inícios de 1905, bem perto da Praça, na Rua Ramiro Barcelos, passou a funcionar o Colégio Bom Conselho, mantido e administrado pelas Irmãs Franciscanas. Um pouco mais abaixo, ao lado do Colégio, em outubro de 1927, foi inaugurado o “Hospital Alemão”.

Com a Segunda Guerra Mundial, precatado, mudou o nome que traz até hoje: “Hospital Moinhos de Vento”. Na esquina da Avenida Independência com a Rua Ramiro, à direita de quem viesse da Santa Casa, havia uma chácara ocupada por uma congregação de freiras.

Na esquina oposta, onde hoje há uma galeria, funcionou por longos anos o Consulado do Japão. Em 1921, instalava-se, em um enorme casarão de tonalidade suavemente azul, na frente da Praça, na Avenida Mostardeiro, a Sociedade Germânia.

Nos anos 40, à sua volta, dando-lhe um novo perfil, foram construídos os edifícios Batoví e Moinhos de Vento. Outros prédios ali se ergueram: os edifícios Plaza e Cerro Formoso, na década de 50, e o Alegrete, na de 60. Foram demolidos a chácara das freirinhas, na esquina da Ramiro, e o belo e antigo prédio da Sociedade Germânia.

A Praça Júlio de Castilhos, no entanto, certamente pela insensibilidade dos administradores, jamais contemplou o lazer da gurizada com a instalação de um escorregador, uma gangorra ou mesmo um simples balanço. Foi construída e conservada sem dar importância a esses objetos, ainda que singelos, importantes à atividade lúdica das crianças.

Única reverência da Praça às crianças está forjada em bronze ao redor do pedestal em que se sustenta o busto em homenagem ao pediatra Florêncio Ygartua: uma roda de meninos e meninas, como se abraçassem ao médico.

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