A Partilha
Os carros passam em fila ruidosamente. As buzinas pedem passagem. Pressa. Gente que deixou o trabalhos, homens engravatados,executivos, pessoas que se dirigem às fábricas. Motos, caminhões, apertando-se nas ruas.Gente anda apressada para com seu trabalho construir a sociedade.
Chego à praça, procuro um banco. Sento-me e observo meu companheiro ao lado. Idade impossível de saber-se.Seu rosto enrugado é sereno e articulado como uma gravura medieval. É com o olhar que ele me toca, como uma flauta, tirando de mim as melhores notas, os melhores acordes, as melhores escalas.
Olho-o demoradamente e quando nossos olhos se encontram ele sorri, com um sorriso largo nos lábios murchos.
“Gosto desta praça. Venho aqui todos os dias para ocupar o tempo que é vagaroso, na minha idade. Conheço pessoas, encontro velhos amigos, companheiros de trabalho. Moro sozinho. Na minha idade já os amigos ficam raros.”
Este homem bem no íntimo espera um acontecimento qualquer, como os marinheiros em perigo relanceiam olhos desesperados pela solidão, procurando ao longe alguma vela nas brumas do horizonte. O homem, como eu, andou sem querer andar, sentiu sem querer sentir, cansou sem querer cansar. Ele em sua solidão no ocaso da vida, partilha a minha solidão de jovem desempregado cansado de ouvir: ”NÃO HÁ VAGA”.