A última viagem de Luane

Suicídio é o corpo que faz

o que a alma há muito já fez.

Às 22h30min de terça-feira, 4 de outubro, encerraram-se, da forma mais trágica, as buscas à policial militar Luane Chaves Lemes, 23 anos, desaparecida no dia 19 de setembro.

Com o auxílio das câmeras de vigilância, praticamente todos os passos da jovem puderam ser conhecidos, desde a manhã em que ela abandonara a casa da família para nunca mais voltar.

A conclusão – incontestável – da autoridade policial encarregada do caso é a de suicídio. O laudo de necropsia somente confirmará essa assertiva. E à polícia será a peça de encerramento do inquérito. Missão comprida!

Será mesmo?

Descobrir a(s) causa(s) ou o(s) culpado(s) que leva(m) um ser ao gesto extremo contra sua própria vida abre um leque de variantes. Luane, por exemplo, através de mensagens via celular, deixou claro o tormento que lhe trespassava a alma. O pedido de socorro ao irmão – que é policial militar bombeiro –, no sentido de permutar para sair da cidade, fora gritante!

Por que a jovem desejava sair da cidade? Por razões da desilusão sofrida com o ex-namorado a quem ela acusou, “Vc acabou com a minha vida, não restou nada!”? Tenho sérias e contundentes dúvidas! Trata-se de estigma bem mais antigo. O namorado, a meu ver, fora apenas objeto de “transferência”.

Hoje, a psiquiatria tem se voltado ao fenômeno da violência familiar – agressão física e psicológica, sobremaneira o estupro incestuoso (pai ou irmãos) – contra crianças e adolescentes e, quando analisado (o fenômeno), permite tanto identificar a natureza abusiva das relações de poder exercidas pelos pais/responsáveis como ainda refere às consequências de tais atos.

A violência doméstica contra crianças e adolescentes – sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica, de um lado uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da infância que estão em todas as camadas sociais.

O que pode acontecer é que as pessoas socialmente mais favorecidas contam com recursos materiais e intelectuais mais sofisticados para camuflarem o problema, como o acesso mais fácil a profissionais em caráter particular e sigiloso; histórias e justificativas mais convincentes quanto aos “acidentes” ocorridos com suas crianças e adolescentes.

O laudo de necropsia de Luane, certamente, há de concluir pelo suicídio.

O pai da jovem, em meio à dor, não culpou ninguém pelo que acontecera..

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