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A verdade verdadeira

Humanos que somos, nossos julgamentos e atitudes são influenciados por preconceitos e idiossincrasias, porém não é possível coadunar a convivência harmoniosa entre os intrinsecamente díspares e a permissão de transformar verdades em mentiras ou vice-versa. No convívio, desde a interpessoal até a das classes, ideologias, crenças e religiões a meta a ser buscada deve ser a da convivência sem ódios, rancores ou barreiras intransponíveis. Abordarei exemplos que consubstanciam.

Na recente peregrinação do Papa Francisco, S. S. selou com o Patriarca Bartolomeu aquilo que há 50 anos Paulo VI eAtenágoras há 50 anos alinhavaram: o reatamento efetivo das relações rompidas em 1054 pela mútua excomunhão decretada pelo Patriarca Miguel e os cardeais Humberto da Silva Cândida, Frederico Solaríngia e o arcebispo Pedro de Amalfi – não houve anátema ao Papa, pois na ocasião Leão IX já havia morrido e Vítor II ainda não fora eleito.

“Desejo renovar o desejo, expresso pelos meus Predecessores, de manter o diálogo com todos os irmãos em Cristo, para encontrar uma forma de exercer o ministério próprio do Bispo de Roma, que, em conformidade com sua missão, possa se abrir a uma nova situação e ser, no contexto atual, um serviço de amor e comunhão reconhecido por todos”. (Papa Francisco).

Nelson Mandela (18/07/1918 – 15/02/2013) dignificou a humanidade.  Preso em 1962 devido à sua ação anti-apartheid, permaneceu encarcerado até fevereiro de 1990. Quem teria mais motivos para, ao ser libertado, liderar uma campanha de revanchismo aos que o submeteram a tamanho sofrimento, humilhação e desespero? No entanto, ao contrário, absorveu tudo e transmutou-se no arauto da paz, concórdia e cooperação com o bem e o progresso do país. Não esqueceu, seria impossível, sublimou a dor e a revolta, resultado: em vez de ensanguentada por lutas fratricidas, uma nação emergiu encarando o futuro com galhardia.

“A verdade é uma vasilha com duas alças, pode ser empunhada com a mão direita ou com a esquerda”. (Montaigne)

Líbia, Síria, Egito, para citar os mais recentes; israelitas e adversários, desde os filisteus até os atuais palestinos, nos apresentam a outra face da moeda. Qual a mais sensata e promissora?

Em nossa plaga a Comissão da Verdade escarafuncha um período nada glorioso da nossa história durante o qual houve torturas, prisões, assassinatos (de ambos os lados), sequestros, assaltos, roubos, delitos de toda ordem. TODOS EXECRÁVEIS.

A lei 6683, mais conhecida como a Lei da Anistia foi promulgada em 2 de setembro de 1979 e estabelece: “É concedida anistia a todos quantos, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes, crimes eleitorais, ou que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos Servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes Sindicais, punidos com fundamentos em Atos Institucionais e Complementares”.

Apresentam-se no momento duas alternativas:

1. Aceita-se a Lei da Anistia Ampla  e Irrestrita.

2. Discute-se a validade de sua universalidade. Neste caso o debate se eternizará porque, como sói acontecer nas democracias, futuramente haverá alternância e os novos detentores do poder constituirão a “Comissão da Verdade 2” e assim por diante, “ad aeternum”.

Cabe agora optar entre os caminhos trilhados por Mandela, o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu ou a perpetuação das retaliações. Se não ensarilharmos as armas, TODOS, jamais vislumbraremos a PAZ! Nem nossos filhos, netos…

“Existem três verdades: a sua, a minha e a verdade verdadeira. Nós dois, juntos, devemos procurar a verdade verdadeira”. (Frei Betto)

Comemora-se no dia 1º de junho o Dia da Imprensa. Em tempos conturbados, como os que ora atravessamos, a imprensa tem-se mantido como fiel guardiã em defender nosso direito de viver sem cabrestos, manifestar sem peias e recusar conformismos com malfeitos. Não é por outro motivo que, em todas as plagas, governantes que se sentiriam mais confortáveis sem o seu enfoque vigilante amiúde sinalizam seu cerceamento. Lembremo-nos que a “técnica do salame” inicia com mínimas fatias e, paulatinamente, vai reduzindo o campo de ação até o completo domínio. Restarão os “Pravdas” e “Gramnas” unidirecionais.

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