Agora, sim, está explicado!

Quando enviei para o Litoralmania a crônica do dia 21 de dezembro último estava decido a me presentear com longas e merecidas “férias” como articulista. Ficar alheio por mais de mês das sempiternas manchetes dos noticiários midiáticos, embriagado pela preguiça do não ter que escrever, lendo bons livros (lançamentos, alguns, clássicos outros tantos) comprados nas livrarias de Porto Alegre (nas de Capão da Canoa só avisto nas vitrinas jogos infantis e brinquedos), com a feliz expectativa pelo casamento de meu filho, e no exato dia 01 de fevereiro, como um bom filho pródigo, a esta “casa” retornar.

O dolce far niente ficou apenas no projeto. Como os exercícios aeróbicos que a caminhada diária propicia o escrever é um vício irreversível: retornei cedo demais. Deveria esta, pois, ser a crônica primeira de 2013, comentando o balanço reflexivo, sobretudo, do que fora para mim, literariamente, o ano recém findo.
Lancei dois títulos – O Corpo de Gioconda (Crônicas) e Uma Casa Chamada Nazareth (novela destinada ao público adolescente).

A noite de autógrafos do Corpo de Gioconda em Porto Alegre fora de excepcional brilho e presença de mais de centena de amigos e leitores. Em contrapartida, em Capão da Canoa, compareceram somente os verdadeiros e sinceros amigos (para alívio do autor não são poucos!) que soubera granjear nestes anos em que aqui não apenas resido como fui perene ativista cultural.

Mas faltou – e põe faltar nisso! – muita gente: os leitores deste Litoralmania que, no transcuro desses cinco anos, não hesitaram em tecer seus comentários acerca de uma crônica ou de um conto; os políticos (sem surpresa alguma) que sequer põem os pés nas Feiras do Livro; os profissionais, por força de sua formação, tidos como intelectuais; meus parceiros (?) – pasmem! – de bancada das terças-feiras do programa radiofônico de opiniões do qual somos debatedores, os ouvintes do referido programa, menos ainda os participantes dos demais dias da semana (serão, acaso, avessos à boa leitura?); a ex-diretoria da Casa de Cultura Érico Verissimo; a atual liderança da Casa do Artista Caponense, como de hábito, ausente – que paradoxo! – na maioria das sessões de autógrafos dos escritores  da cidade).

Aí pensei: seria pela razão de, em sendo opiniático, entenderem que ofendo as pessoas?

É um erro! Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso no nosso convívio que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor (ou ouvinte) que julgue. Acho que quem ofende os outros são os que teimam em permanecer em cima do muro, que não querem contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado.
Mas não fora somente esta a provável razão de não compartilharem do momento feliz deste escrevinhador. Eis, então que me chega às mãos o texto (de autoria desconhecida) que reproduzo algumas frases:

“Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estreia  na  Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de  seu  pai,  o  que  tinha  achado  do  seu  primeiro  desempenho naquela assembleia  de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse,  em tom paternal: “Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante  neste  seu  primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter  começado um  pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência  que  demonstrou  hoje,  deve  ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta.” A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da  inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui no Brasil. Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista  de  posições.  Sabem  ocupar  os  espaços  vazios deixados pelos talentosos  displicentes  que não revelam o apetite do poder. Eles  conhecem  bem  suas  limitações,  sabem  como  lhes custa desempenhar tarefas  que  os  mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida  em  que  admiram  a  facilidade  com  que  os mais lúcidos resolvem problemas,  os  medíocres  os  repudiam  para  se  defender. Como  é  sábio  o  velho conselho de Nelson Rodrigues: finge-te de idiota e terás o céu e a terra. O problema é que os inteligentes gostam de brilhar. Que Deus os  proteja.”

Agora, sim, está tudo explicado.

Ao menos para mim!

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