Aliados montam estratégia para Ciro Gomes em 2010

Discretamente, o deputado federal Ciro Gomes (PSB- CE) retomou as viagens periódicas aos Estados, fórmula testada com relativo sucesso na eleição presidencial de 1998, quando concorreu pelo PPS e chegou num surpreendente terceiro lugar, com 10,97% dos votos válidos, atrás apenas do vitorioso Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva. Ciro é o virtual candidato a presidente do Bloco de Esquerda, um grupamento de seis partidos que pretende se tornar uma alternativa ao PT, nas próximas eleições, cujo programa comum de atuação deve ser divulgado no dia 22.

Prefeito de Fortaleza (1989-1990), governador do Ceará (1991-1994) e ministro da Fazenda no último ano do governo Itamar Franco (1994), Ciro Gomes era razoavelmente conhecido quando decidiu disputar pela primeira vez a Presidência. Conhecimento que consolidou após um longo ciclo de viagens pelos Estados, em geral para proferir palestras. Ciro está de volta à estrada. Desde que assumiu como deputado federal eleito pelo PSB, em fevereiro passado, já esteve em Pernambuco, pelo menos quatro vezes em São Paulo – Capital e Interior -, no Maranhão e deve ir a Tocantins no próximo final de semana.

Ciro tenta se manter discreto porque ele próprio e o PSB não consideram boa a estratégia desde já assumir a candidatura. Até porque no partido há outro potencial candidato, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Não por acaso, os dois foram os mestres-de-cerimônia dos recentes programas partidários do PSB na televisão. Mas também não pode submergir de vez e ficar à margem do processo: quase sempre as viagens aos Estados são justificadas como de atendimento a colegas de partido, um trabalho para fortalecer o PSB.

Em mais um movimento para tentar pavimentar uma candidatura própria em 2010, no dia 22 os presidentes dos partidos do Bloco de Esquerda, também chamado de bloquinho, se reúnem em Brasília para homologar um manifesto conjunto. Trata-se de um programa comum que pretende nortear a ação política e eleitoral de PSB, PDT, PCdoB, PMN, PRB e PHS. O projeto dos partidos é estabelecer uma base programática para que as seis siglas tentem se associar nos Estados já na eleição municipal de 2008. É basicamente um documento de apoio ao governo Lula, com propostas genéricas de modo a facilitar o entendimento entre as seis legendas nos Estados e municípios.

Nascido de um conflito com o PT – a eleição para presidência da Câmara, à qual concorreu com o deputado Aldo Rebelo (PCdoB), o manifesto, no entanto, evita a questão. Também não é por acaso: o próprio Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao PSB e a Ciro Gomes que evitassem confrontar o Partido dos Trabalhadores. O presidente acredita que esse foi um dos problemas que inviabilizaram a candidatura de Aldo Rebelo a presidente da Câmara.

O clima entre os deputados do bloquinho em relação ao PT é de beligerância. O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, por exemplo, diz que o bloco está aberto ao ingresso do PT, mas adverte ironicamente que o partido do presidente já fez sua escolha ao formar o blocão com o PMDB. Entre o PCdoB e o PT, aliados históricos, as disputas por espaço chegam até os movimentos estudantil e sindical.

No PDT, há quem manifeste preocupação com a visão antipetista do bloco, a exemplo do senador Cristovam Buarque (PDT). O deputado Miro Teixeira (RJ) nunca demonstrou muito entusiasmo com a aliança. Órgãos de direção do PT já manifestaram a intenção de buscar uma reaproximação com os parceiros desavindos, especialmente PSB e PCdoB. Seria uma forma até de contraponto ao excessivo peso do PMDB, maior partido da base, na coalizão de sustentação do governo. As duas siglas é que demonstram resistência, pois avaliam que serão desconsideradas pelos petistas no momento em que estiveram novamente juntas.

Lula já cogitou antes em ter Ciro Gomes como candidato. Na semana seguinte ao depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios, quando estava no fundo do poço, o presidente teve uma conversa com auxiliares muito próximos. Àquela altura, disse, só via uma pessoa no governo capaz de substituí-lo: Ciro Gomes. Um homem de Estado, de caráter e de idéias firmes, avaliou, segundo testemunho de um dos presentes à conversa. Lula, como se sabe, deu a volta por cima. Continua falando em Ciro, mas também já se sente em posição confortável o suficiente para dizer que pode apoiar mais de um candidato à sua sucessão.

Ciro, por seu turno, procura se manter leal ao presidente, mas até mesmo por uma questão de estilo ,nem sempre consegue se conter nas críticas ao governo do qual fez parte como ministro da Integração Nacional. Depende muito da platéia. Em discurso na Câmara, por exemplo, o deputado identificou o problema da gerência como sendo um dos principais do Programa de Aceleração da Economia. Falando num seminário do PCdoB realizado recentemente em São Paulo, voltou ao tema. Mas o tom já era outro: O PAC tem um grupo central de gestão integrado pelos ministros Dilma Roussef (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda).

Mas abaixo disso, a tragédia é ampla, geral e irrestrita. Segundo Ciro, não há gestão instalada no país para um projeto que pretende tocar mil ações em quatro anos. Uma linguagem no limite da oposição, bem mais contundente que a do bloco que tenta se organizar em torno de um candidato efetivamente competitivo para 2010.

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