Alta no preço do milho encarece frango
Ciente desse problema, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem estimulado a oferta de milho nas regiões mais necessitadas. A medida, no entanto, é insuficiente para dar conta da demanda do setor, que, segundo a União Brasileira de Avicultura (Ubabef), é 3 milhões de toneladas por mês. O estoque atual da Conab é 1,2 milhão de toneladas.
Parte da dificuldade de acesso ao milho se deve à alta do preço internacional do produto, em decorrência da seca nos Estados Unidos. “Além de ter reduzido a produção deles, a seca prejudicou também o escoamento, já que afetou as hidrovias norte-americanas por onde o milho é transportado”, disse à Agência Brasil o superintendente de Gestão de Oferta da Conab, Carlos Eduardo Tavares.
“Mas acredito que este é apenas um problema momentâneo, já que a safra deles, a maior do mundo, é cinco vezes maior que a brasileira. Mesmo com a quebra, os EUA continuam produzindo mais que o Brasil. Enquanto o problema da seca nos rios não for superado, eles compram do Brasil. A partir do momento em que os rios voltarem a permitir o escoamento do produto, a tendência será de maior tranquilidade para comercializarmos internamente o nosso milho, sem tanta influência do ambiente externo”, explicou o superintendente.
Enquanto isso não acontece, a Conab está atuando em duas frentes visando ao suprimento de milho nas áreas mais afetadas pela seca no Brasil – uma no Nordeste, outra na Região Sul. “O Nordeste desenvolveu uma avicultura forte e depende do milho para alimentar suas aves. Estamos liberando estoques de Mato Grosso para suprir esse déficit. Serão remetidas mais de 400 mil toneladas de milho para o norte da região. Fizemos subvenções para a iniciativa privada interessada em transportar o milho até lá. Na área central do Nordeste, a remoção terá origem nos estoques de Mato Grosso e Goiás”, disse Tavares.
Segundo ele, das 400 mil toneladas previstas para o Nordeste, 70 mil já foram comercializadas. “Estamos estudando a possibilidade de, caso haja elevação significativa de preços, elevar ainda mais o fornecimento do produto”. Para aumentar seus estoques destinados ao mercado interno, a Conab já está negociando a compra de 10 milhões de toneladas de milho produzidos em Mato Grosso, no Paraná e em áreas do Nordeste.
A Região Sul também registrou problemas devido à seca, principalmente no noroeste do Rio Grande do Sul e no oeste de Santa Catarina. Para amenizar a situação, o governo federal está deslocando 200 mil toneladas de milho para a região afetada. “Desse montante, mais de 140 mil já foram para os dois estados por meio de remoção”, disse o superintendente.
“O governo usa, acertadamente, o prêmio de escoamento da produção e a venda da produção como instrumentos para regular a situação. É uma atitude elogiável. O problema é que falta volume, porque o consumo e a carência de milho são sempre grandes. A avicultura consome, por mês, 3 milhões de toneladas, valor bem acima do estoque anunciado pela Conab, que é apenas um paliativo e não dá condições para a regulação do preço”, disse à Agência Brasil o presidente da Ubabef, Francisco Turra.
Ele explicou que, no caso do milho, o país tem um bom estoque, “mas nas mãos do setor privado”. Na opinião de Turra, “para melhorar a situação, a Conab precisa intermediar mais leilões, inclusive de fretes de milho. Atualmente sobra milho nas áreas de produção, mas falta nas áreas de consumo porque a produção brasileira está tomando outro destino, onde os preços estão mais atrativos”.
A falta de ração para frangos é mais sentida pelos pequenos produtores, segundo o presidente da Ubabef. “Eles não têm capital de giro e não conseguem comprar. Ficam à mercê de um programa governamental como esse, para ter acesso ao milho. É um gesto bonito do governo, mas é pouco. Para o brasileiro, isso é melhor do que o milho ter como destino os portos e o mercado externo”.
Somente em julho a exportação chegou a 1,7 milhão de toneladas de milho, segundo Turra. O reflexo disso, explicou o avicultor, é a redução da produção de frango. “Esse cenário não está restrito ao Brasil. Há cerca de duas semanas, durante um congresso mundial de avicultura que reuniu representantes de 93 países na Bahia, os produtores de frango anunciaram redução de 10% na produção mundial. No Brasil, a redução mínima deverá ser 10%, causada pela alta do preço dos insumos e pela dificuldade de reabastecimento”.
Com isso, acrescentou, o repasse ao preço final será inevitável. “Temos informação que isso já está acontecendo. O aumento do custo para o produtor já está acima de 25%, e temos informação que, para o consumidor, o preço final já aumentou cerca de 15%”.