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Ao entardecer – Sergio Agra

Ao entardecer - Sergio Agra

Fui abraçá-la em homenagem ao seu Dia. Seu olhar, se as pálpebras não se deixassem cerrar, se revelava distante, sem que se apercebesse da minha presença, ali, bem à sua frente. Abracei-a e ternamente beijei as suas esquálidas faces que apesar do tempo pouca ou quase nenhuma ruga traziam. Sentei ao seu lado e busquei as suas mãos que teimavam em permanecer crispadas, como se se negassem ao contato, ao afeto. Eu sabia, no entanto, o porquê daquela incapacidade.

Como sempre, a primeira e única palavra pronunciada era “Theo”… Depois, se permitia desenovelar o longo fio das longínquas memórias.

ao entardecer o silêncio e a luz esmaecida do sol outonal compõem o pano de fundo das remembranças em que os fracassos estendem os tentáculos de suas infindáveis sombras sobre tudo o que foi e nos pareceu não ter sido fruto único de nossas próprias escolhas como se despertássemos àquela hora do dia agônico após um longo sono impreciso em sua duração o suficiente para que a Compreensão pudesse absorver a estagnação total daquele transcurso de Tempo de Horas e Dias e Meses e Anos agora congelados em sua essência mas quem sabe encontrassem ainda sua Razão de ser mesmo que o indecifrável e hibernal Sono tenha deixado no Corpo-Alma não há distinção o desconforto de quem se acomodara em posição incômoda é até curioso e agora se faz indispensável a inquietação como se sem ela não houvesse a possibilidade de se encontrar o fundamental equilíbrio para se dar o passo seguinte definitivo inquestionável irrecorrível num torvelinho de sonhos paixões risos prantos encontros desencontros perdas ganhos idas e vindas até quando ninguém sabe e que resultou na Rosa Vermelha sobre as pedras do Deserto de sua própria Memória

Ela abriu mansamente os olhos. Nas retinas de minha mãe distingui minha própria imagem ao entardecer…

* Crõnica escrita no dia 10/05/2009

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