Ao meu amigo Marco Antônio Pfitscher

“MARQUINAS”:

Bem conheces a procedência do “martelo da rua Hoffmann”, aquele que foi subtraído de um alcouce onde visitávamos amiudadas vezes. (Após a “apropriação” – a bem da verdade – eu abandonei a licenciosidade, convertido que fui à Fé no Senhor, mas sei que continuastes a prestigiar a rua e lá deixastes pequena fortuna nos cofres lupanares).

Pois aquele instrumento de ferro destinado a bater, quebrar e, especialmente, cravar pregos – bem sabes – carrego como uma recordação dos tempos da “tia” Conceição, velha cortesã da rua Hoffmann.

Perdi a conta de quantos pregos ele me ajudou a fixar nas paredes. Quantas vezes com ele quebrei e assentei tijolos, socorri vizinhos, e, certa vez – muitos duvidam –, pus a correr um larápio com o perigoso instrumento.

Outra vez, estava um encanador a consertar o aquecedor lá de casa e precisou de um martelo. Prontamente fui buscar o “martelo da Hoffmann”. Possuído de altruísmo, ofereci a ferramenta – assim como um bom cristão oferece o pão ao próximo.

 Ao apanhar o martelo, o homem tratou de depreciar o que, desinteressadamente, eu o obsequiava: “o seu martelo – disse ele sem pejo – pouco ou nada serve; o lado de ‘bater o prego’ está irregular, o que pode levar a entortar o prego na hora de fincá-lo na parede; a outra extremidade não oferece condições sequer de sacar um alfinete de um pedaço de madeira”. Aborrecido, pensei: “Pai perdoai os desprovidos de luz, eles não sabem o que dizem”.

Há poucos dias fui retirar alguns objetos que havia posto no forro da casa. Estava em cima de uma cadeira, que me servia de escada. Ia com a mão tateando até que um dos utensílios escorregou e saiu do alcance dos meus dedos. Precisava naquele momento de algo que fosse a extensão da minha mão. Mas o quê? Foi quando alguém me alcançou o que eu tanto carecia: “serve esse martelo?”.

Que nem um filme, sequências de imagens passaram pela minha lembrança. Nelas o senhor, Marco Antônio Pfitscher, José Luiz Cunha Rangel Pinto e Breno Wiethölter iam em direção à rua Hoffmann. Lá seriam acolhidos pela “tia” Conceição que diria aos vê-los: “Entrem e divirtam-se; mas o “Marquinas” antes jogará um pifezinho comigo”.
Lembrei do martelo depois da tua última visita lá em casa. Falamos de coisas por nós vividas; dos que se foram; das tuas viagens pelo mundo, mas não tocamos no martelo cuja história leva à nossa descompromissada juventude que escorreu em fio pelo redemoinho dos anos. Mas o martelo continua com o seu ferro frio e o seu cabo de madeira do mesmo jeito de quarenta anos atrás!

Nós, no entanto…

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