Árvore de Natal

Este ano lá em casa tudo indicava que não seria armada a árvore de Natal. Ela fica guardada num quartinho, junto à garagem, com os enfeites e as luzes que a adornam. É alta, bonita e, mesmo desarmada, necessita de duas pessoas para trazê-la até a casa. Leva-se, seguramente, mais de uma hora para montá-la.

E não é que o pessoal esse ano demonstrou certa mandriíce em ir buscá-la, armá-la para, logo no início de janeiro, repetir a tarefa, agora do seu desmonte.

Eu não acredito em nada, inclusive que o “Senhor das Esferas” possa não existir, paradoxo – admito – inexplicável. Mas cresci assistindo todos os anos na minha casa um ritual de montar a árvore de Natal. Naqueles tempos se compravam em certos pontos da cidade os pinheiros, pouco mais que uma muda. Eram vendidos verdes e, para enfeitá-lo, exigia certa habilidade, caso contrário espetava-se os dedos e as mãos.

E foi Barbosa que num destes natais, a me ver com uma nota na mão para comprar um pinheirinho, propôs a derrubada de um que crescia nos jardins do Hospital Moinhos de Vento e dividíssemos o dinheiro, o que foi prontamente aceito.

A missão foi executada com êxito. A árvore ficava no centro do jardim do hospital, logo após uma ribanceira, cultivada com apego pelas mãos calejadas dos jardineiros Alfredo e Acácio.

E a ceifa implacável foi à noite, com um serrote que Barbosa tomou emprestado do avô. E, no breu, ainda que com o coração a pulsar acelerado, determinados, concluíamos a operação. Depois, saímos arrastando o pinheirinho sem que ninguém nos importunasse.

A subtração foi perfeita. Sem remorso, dividimos o dinheiro. Minha mãe jamais desconfiou. O Hospital nunca descobriu e os sanduíches e refrigerantes por nós saboreados com o dinheiro foram em homenagem ao seu Acácio e ao seu Alfredo; os doces e as balas, em reverência à ideia do Barbosa.

Pois esse ano, como eu dizia, não vi lá em casa movimento para a montagem da árvore. Os dias estavam passando, o mês avançando… E nada! Confesso também que senti preguiça para tomar à frente e buscar a árvore no quartinho.

Resolvi então ir à cata de uma arvorezinha e, num bazar, encontrei o que precisava: pouco mais de meio metro, da base à estrela de cinco pontas que está fixada na sua “copa”, com luzes que piscam em vários tons e bolas coloridas, tudo numa peça só. Perfeita! 

Tive apenas o trabalho de retirá-la da caixa e colocá-la em um canto em cima de uma mesa. E esse ano, ao contrário do que se prenunciava, a tradição na família será mantida, mesmo que seja como se fosse uma espécie de bonsai de árvore de Natal.

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