As obras de misericórdia – Por Dom Jaime Pedro Kohl

IMG_1180-195x300111111111A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim capaz de misericórdia. É um milagre sempre novo que a misericórdia divina possa irradiar-se na vida de cada um de nós, estimulando-nos ao amor do próximo e animando aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual.

Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz em atos concretos e cotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo, no corpo e no espírito, e sobre os quais havemos de ser julgados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo.

Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina.

Realmente, no pobre, a carne de Cristo “torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga… a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós”.

É o mistério inaudito e escandaloso do prolongamento na história do sofrimento do Cordeiro Inocente, sarça ardente de amor gratuito na presença da qual podemos apenas, como Moisés, tirar as sandálias.

Diante deste amor forte como a morte, fica patente como o pobre mais miserável seja aquele que não aceita reconhecer-se como tal. Pensa que é rico, mas na realidade é o mais pobre dos pobres. E isto porque é escravo do pecado, que o leva a utilizar riqueza e poder, não para servir a Deus e aos outros, mas para sufocar em si mesmo a consciência profunda de ser nada mais que um pobre mendigo.

E quanto maior for o poder e a riqueza à sua disposição, tanto maior pode tornar-se esta cegueira mentirosa. Chega ao ponto de não querer ver o pobre Lázaro que mendiga à porta da sua casa, figura de Cristo que, nos pobres, mendiga a nossa conversão.

A Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia.

Se, por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais tocam mais diretamente o nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar.

As obras corporais e espirituais nunca devem ser separadas. É tocando no miserável, carne de Jesus crucificado, que o pecador pode receber a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo.

Somente neste amor temos a resposta àquela sede de felicidade e amor infinitos que o homem se ilude de poder colmar mediante os ídolos do saber, poder e possuir.

Não percamos este tempo favorável à conversão!

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osóriodomjaimep@terra.com.br

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