Boate Kiss: ato público lembra dois meses da tragédia
De acordo com o presidente da Associação de Familiares de Vítimas do Incêndio na Boate Kiss, Adherbal Alves Ferreira, um ato semelhante vai acontecer em Buenos Aires, na Argentina, e reunir mães que viveram um drama parecido há oito anos, ao perderem seus filhos durante um incêndio na boate Republica Cromagnón. Na ocasião, 194 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. Em fevereiro, algumas dessas mães estiveram em Santa Maria prestando solidariedade aos parentes dos jovens mortos na Kiss.
“Vivemos a mesma dor da perda de um filho e vamos nos unir neste momento de comoção. Nunca vamos esquecer essa data e nossa intenção, com o buzinaço e as palmas, é prestar homenagem a nossos filhos – heróis mortos na tragédia; a nós, pais – que também somos heróis e enfrentamos essa dor incurável; e aos sobreviventes”, disse, ressaltando que o grupo pretende repetir o ato no dia 27 de todos os meses.
“Queremos que essa triste história nunca seja esquecida para que ninguém mais tenha que sofrer dessa forma”, enfatizou.
Ferreira destacou que a associação estuda a criação de um órgão que reúna representantes da prefeitura de Santa Maria, do Corpo de Bombeiros, engenheiros e empresas de seguro para fiscalizar os estabelecimentos da cidade e verificar o cumprimento das normas de segurança.
“Ainda estamos estudando essa ideia, mas achamos que seria importante ter um órgão nesses moldes para chancelar o funcionamento seguro desses locais. Dessa forma, teríamos legitimidade para cobrar o cumprimento de normas fundamentais e evitar mortes”, explicou.
Ele reafirmou que o grupo de pais ficou satisfeito com o resultado do inquérito da Polícia Civil, concluído na semana passada. Foram indiciadas criminalmente 16 pessoas, entre elas integrantes da banda Gurizada Fandangueira, os donos da boate e autoridades que seriam responsáveis pela fiscalização da casa noturna.
O prefeito Cezar Schirmer e o comandante do 4º Comando Regional de Bombeiros, sediado em Santa Maria, tenente-coronel Moisés Fuchs, foram indiciados por homicídio culposo, por omissão em fiscalizar a boate e impedir que ela funcionasse em situação de risco aos frequentadores.
Cabe agora ao Ministério Público apresentar denúncia à Justiça, que vai decidir se inicia processo contra os apontados como responsáveis pela tragédia, na conclusão do inquérito policial.
De acordo com o documento, o incêndio na Boate Kiss começou após uma fagulha de artefato pirotécnico tocar a espuma de isolamento acústico da casa noturna. O artefato, aceso por um dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, era inadequado para ambientes internos e a espuma também não era de material apropriado para o isolamento da boate.
Segundo os delegados que produziram o inquérito, quando os jovens perceberam o fogo e tentaram fugir, encontraram diversos obstáculos no caminho até a única porta de saída da boate. A maioria morreu asfixiada e envenenada pela fumaça tóxica produzida pela espuma.