Cardozo: Porto Seguro só foi possível graças à autonomia da PF
“[As operações que têm sido feitas] são operações de uma PF que nos últimos dez anos se firma como republicana e que cumpre a lei. A análise do ministro da Justiça em nenhum momento faz a PF se curvar”, disse Cardozo durante audiência na Câmara dos Deputados.
Ele lamentou o fato de a PF receber críticas de aparelhamento quando investiga a oposição e de desmando quando investiga integrantes do governo ou da base governista. “Durante períodos eleitorais, ela foi acusada de perseguir a oposição, como aconteceu na Operação Monte Carlo”, disse o ministro.
“Agora, na Porto Seguro, envolvendo cargos do governo e base de sustentação governista, diz-se que o ministro perdeu o comando da PF ou que há alguma disputa interna [no órgão]. Em nenhum momento se foca as razões como são realizadas ou a forma como são feitas essas investigações. A PF não é mais uma polícia de governo. É uma polícia de Estado”, destacou.
Ele negou que tenha acessado informações detalhadas antes do início da Operação Porto Seguro. “Caso contrário haveria uma ilegalidade. Além do mais, a autoridade que tentasse saber [dessas informações sigilosas] antes da hora teria contra si a sadia reação da PF. Essa é uma prática irreversível que evita o uso [da PF] e orientações para ataques políticos. Se no passado o ministro [da Justiça] dizia nada ter a declarar, hoje o ministro pode dizer que a PF é uma polícia de Estado”, reiterou.
Cardozo disse que só foi informado da operação na quinta feira (22), após a posse do ministro Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal (STF), quando se encaminhava para um encontro de ministros da Justiça e segurança pública do Mercosul em Fortaleza.
“Já a caminho do aeroporto, recebi telefonema do diretor-geral da PF, Leandro Daiello, informando da operação em vários órgãos. Ele sugeriu que eu permanecesse em Brasília porque me passaria as informações durante a madrugada. Ele não disse quais órgãos seriam alvos, nem se haveria prisões. Fui ao Palácio do Planalto e informei a presidenta, da forma genérica como havia recebido [essas informações], ainda na quinta-feira”, disse Cardozo.
O ministro conta que só recebeu informações sobre os mandados de prisão e de busca e sobre as características da operação na madrugada de sexta-feira, ao chegar a Brasília. A operação foi desencadeada na manhã de sexta (23). Cardozo lembrou ter dito ao delegado que a operação poderia estar suscetível a uma questão jurídica de foro privilegiado por envolver o escritório da Presidência. “Mas fui informado que o mandado era especifico à mesa da então chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha.”
O delegado responsável, Ricardo Hiroshi, havia pedido que, no momento da operação, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) tivesse autorização para acompanhar a operação e para que a coleta fosse feita somente na mesa da investigada. “Naquele momento, me pareceu que a ordem estava estritamente de acordo com a lei”, disse Cardozo.