Chamas
Sobre o corpo inerte,
o celular toca desesperado.
E toca, e chama, e chama,
e toca, e grita, suplica!
Mais de cem vezes!
Tu não sabias ainda, mãe,
das chamas assassinas.
E insistias em chamar teu filho!
Tu e tantas outras.
Tantos pais,
tantos irmãos,
tantos afetos!
E as chamas que chamaram a fumaça diabólica
iam exibindo,
no palco,
no teto,
nas paredes,
o satânico espetáculo pirotécnico.
Na escuridão do maldito labirinto,
sinuosa e cruel,
a serpente negra ia sufocando,
derrubando,
aniquilando!
E surgiram os heróis,
anjos salvadores que salvaram e morreram,
anjos salvadores que salvaram e viveram!
Louvados sejam todos!
Extintas, enfim, as chamas assassinas,
restou
o vazio
– impreenchível! –
e o amor
– imperecível!
Já não há mais chamadas
sobre corpos inertes.
Mas as almas que se amam
– aqui e lá –
hão de manter chamadas e retornos
no fluxo do afeto
que nunca morrerá.
E os culpados, os relapsos,
os gananciosos, os irresponsáveis,
ninguém impedirá,
depois de todo o negror,
o imenso,
o luminoso,
o eterno abraço
das almas que um dia
se enlaçaram
em um perene pacto de amor.
mulher de Montenegro, namora um homem de Osório. Criança com menos de um ano. diversas lesões.