Jayme José de Oliveira
Colunistas

Cícero – Jayme José de Oliveira

Considerado um dos maiores oradores da Roma Antiga, Marco Túlio Cícero nasceu em Arpino, Itália, no dia 3 de janeiro do ano 107 a.C.,  filho de um rico equestre, a mais baixa das duas classes da ordem senatorial. A ordem equestre era formada por plebeus enriquecidos principalmente pela ampliação do comércio Mediterrâneo.

Recebeu fina educação, estudou grego latim e oratória. Recebeu ensinamentos dos mais insignes filósofos, poetas e historiadores gregos. Deixou-nos um legado de liberdade e ética cuja principal base é a HONESTIDADE. É dele o pensamento: “O poder propicia a um homem inúmeros privilégios, mas um par de mãos limpas raramente está entre eles”. Nem Cícero manteve-se imaculado, imagine os contemporâneos.

Devemos situar no contexto social da época quando nos referimos à LIBERDADE, devemos nos conscientizar que havia escravidão no Império Romano, como em todo o mundo contemporâneo. Seu escrivão, Marcos Túlio Tiro era um escravo que foi posteriormente libertado por Cícero. Criou o primeiro sistema organizado de taquigrafia, eram abreviaturas chamadas Notas Tironianas que foram usadas durante séculos.

Robert Harris, escritor inglês, pesquisando arquivos que relatam a época produziu uma trilogia; “IMPERIUM”, “LUSTRUM” e “DITACTOR” que reportam importantes episódios da vida de Cícero.

Quando alguém ousava dizer que a política era chata, tirava Cícero do sério. – Que coisa mais idiota que dizer “A política é chata, se a política é a História em movimento!” Que outra atividade humana mexe com o que há de mais nobre nas almas dos homens e com tudo que há de mais baixo? Ou que seja tão excitante? Ou oque mais vividamente expõe nossas forças e nossas fraquezas? Chata? Seria mais apropriado dizer que a vida é chata! (pg. 218)´ – IMPERIUM, primeiro volume da trilogia)

Após uma proposta desonrosa de Pompeu: -Talvez eu devesse ter saído de lá de imediato Cícero me confidenciou mais tarde. Isso é que o pobre e honesto teria me aconselhado a fazer. Mas Pompeu iria em frente, comigo ou não, e com isso eu só conseguiria sua inimizade, o que destruiria qualquer chance de eu vir a me tornar pretor no futuro. TUDO O QUE EU FAÇO ATUALMENTE DEVE SER ANALISADO PELO PRISMA DESSA ELEIÇÃO.

“Militares não são políticos, é uma conspiração criminosa usar o artifício das ações dos piratas para assumir o poder absoluto” – disse Cícero balançando desesperadamente a cabeça – pior: uma conspiração criminosa burra. Esse é o problema quando soldados resolvem fazer política. Imaginam que a única que precisam fazer é sair dando ordens e todo o mundo vai obedecer. Não conseguem perceber que a única coisa que em princípio os torna atraentes é o fato de serem supostamente grandes patriotas, acima da imundície da politica, é, no final, o que pode derrota-los porque ou eles permanecem acima da política, e nesse caso não vão a lugar nenhum, ou entram de cabeça na lama junto com todos os demais, e aí se mostram tão venais quanto qualquer mortal”. (pg. 230)

Imagino que deve ser duro para ele gastar tanta energia com um chefe que não admirava e com uma causa que acreditava ser fundamentalmente equivocada. Uma jornada ao topo da política muitas vezes obriga um homem a conviver com determinados companheiros de viagem incompatíveis e revela estranhos cenários, e ele sabia perfeitamente que agora não havia mais retorno. (pg. 249)

Os jogos de Apolo, no sexto dia de julho, marcavam tradicionalmente o início da temporada de eleições, ainda que, na verdade, aqueles dias sempre pareceram ser dias de eleições. Nem bem terminava uma campanha e os candidatos já começavam a preparar a seguinte. Cícero brincava dizendo que o negócio de governar o Estado era algo meramente para ocupar o tempo entre os dias de votação. E talvez essa seja uma das coisas que levara à morte da república: ela se empanturrou de eleições até morrer.

Almejo o cargo de cônsul, que significa a imortalidade, uma recompensa pela qual vale a pena lutar. Roma é uma cidade gloriosa construída sobre um rio de lama. Portanto, sim, eu defenderei Catilina, se for necessário,e depois romperei com ele o mais rápido que puder. Ele faria o mesmo em relação a mim. Este é o mundo em que vivemos (lembro que Catilina ficou célebre por ter tentado posteriormente derrubar a República Romana). Cícero, então já desafeto, pronunciou uma série de quatro discursos, as “Catilinárias, onde a palavra não poderia ser mais torpe:“Quousque tandem abutereCatilinapatientianostra?” (Até quando Catilina abusarás da nossa paciência?) E, também: “Hoc locussacrus est, puer, extra mingite”. (Este lugar é sagrado guri, vá urinar lá fora). Pg. 302

Comentário do colunista: Atualmente também se constroem alianças pragmáticas, com finalidades puramente eleitoreiras e que logo se rompem, ao primeiro desentendimento.

Nas palavras de Cícero, um apanhado de qualidades paradoxais inerentes a um político mais interessado na próxima eleição que aos destinos da nação:“Fazer muitas amizades e mantê-las por devoção; dividir o que possui com todos e pôr à disposição de todos os amigos, nas horas de necessidade, dinheiro, influência, denodo e, se preciso, a ação criminosa mais inconsequente; controlar o temperamento conforme a ocasião e moldá-lo dessa ou daquela maneira; mostrar-se austero com os rígidos, flexível com os liberais, circunspecto perante os velhos, amável com os jovens, corajoso com os criminosos, dissoluto em meio aos depravados…” pg. 310.

Pasmem, Cícero acabou recusando-se a defender Catilina, com isso, adquiriu um inimigo mortal. Em coluna(s) posterior(es) veremos como terminou este triste “imbróglio” da História Romana.  De qualquer modo podemos refletir de como, passados vinte e quatro séculos, pode-se aferir que os políticos continuam usando os mais torpes estratagemaspara garantir eleições.

A qualquer custo, repito.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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