Claudio Milar era o maior ídolo do Brasil de Pelotas
Entre as mortes causadas pelo acidente ocorrido no fim da noite desta quinta-feira com o ônibus do Brasil de Pelotas, a que causa maior comoção é a do uruguaio Claudio Milar. Ídolo da torcida que se autoproclama a mais apaixonada do estado, Milar fez mais de cem gols com a camisa do Brasil. Na maioria deles, comemorava imitando o símbolo do clube – o índio xavante – como se atiransse uma flecha para as arquibancadas.
Milar arrebatou a torcida em 2004, quando o time se preparava para disputar a segunda divisão do Gauchão. Na pré-temporada, o time disputou o Campeonato Citadino, contra as equipes do Pelotas e do Farroupilha. Os jogos eram todos disputados na Boca do Lobo, casa do rival Pelotas, então na primeira divisão. O Brasil amargava o sexto ano fora da elite do futebol estadual.
Já nos seus primeiros minutos em campo, Milar demonstrava obstinação em ajudar a retirar o Brasil da situação incômoda. Tinha uma habilidade incomum no interior em avançar pela lateral, atingir a linha de fundo e, com dribles curtos, se aproximar do gol. Se não finalizava, servia uma bola perfeita para um companheiro no meio da grande área. Milar já era ídolo quando foi expulso na partida final, ainda no primeiro tempo. Naquele jogo, com dois a menos, o Brasil derrotou o rival Pelotas na prorrogação, depois de empatar em 2 a 2 no tempo normal.
A conquista serviu como fundação para o grupo de 2004, do qual Milar era um líder. Foi artilheiro da Segundona daquele ano, ajudando o Brasil a retornar à primeira divisão. Desde então, os xavantes torceram para Milar até quando ele deixou de jogar pelo Brasil. O atacante teve uma passagem pela Polônia, e seus gols da época também são sucesso de audiência no “Youtube” entre os xavantes conectados. Em uma partida no Bento Freitas, é possível avistar alguém com uma camisa do Pogon em meio às rubro-negras.
Em seguida, Milar retornou e, nesse tempo, fez cem gols pelo Brasil, completou 200 partidas oficiais, viu seu rosto pintado em uma bandeira sempre pendurada no alambrado do estádio, levou seu pai para ser preparador físico do time e criou raízes em Pelotas, onde morava com a família — tinha até cidadania brasileira. Só não conseguiu realizar o sonho de subir à Série B do Brasileirão, objetivo do qual chegou perto nas campanhas de 2006 e 2008. Aos 34 anos, deixa mulher, Caroline, e um filho de três anos, Agustín.
Ficha da carreira de Claudio Milar
Nome: Roberto Claudio Milar Decuadra
Nascimento: 06/04/1974, em Chuy (Uruguai)
Morte: 15/11/2009, em Canguçu (Rio Grande do Sul)
Clubes:
1991/1997 – Nacional-URU
1997 – Godoy Cruz-ARG
1998 – Caxias-RS
1999 – Portuguesa Santista, Santa Cruz-PE
2000 – Náutico
2001– Club Africain-TUN, Botafogo-RJ
2002 – LKS PTAK-POL, Pelotas
2002/2003 – Brasil de Pelotas
2003/2004 – Hapoel Far Saba-ISR
2004/2005 – Brasil de Pelotas
2005/2006 – Pogon-POL
2006/2009 – Brasil de Pelotas