Jayme José de Oliveira

Na porta do templo de Apolo, em Delfos, está escrito:

“Conhece-te a ti mesmo”.

As dificuldades de convivência derivam do fato de que dificilmente as pessoas se conhecem a si mesmas, quanto mais aos outros, suas necessidades e anseios.

Não desejar os excessos é tão incongruente para a maioria que os exageros abundam. Pensam: por que devo me privar das coisas que me dão prazer se labutei por elas? Quando alcançar uma estabilidade econômica que permitirá satisfazer os anseios com os quais sonhei nos tempos de privaçõessinto-me no direito de usufruir.

Cumpre aqui estabelecer o que são excessos incompatíveis com um relacionamento harmonioso. Proporcionar uma vida confortável para si e os dependentes não é um ato extravagante. Esbanjar em festas suntuosas para tripudiar e esnobar jamais atrairá a admiração, inclusive dos participantes convidados para a esbórnia.

Vivemos numa sociedade estratificada muito bem representada pela figura de uma pirâmide que desnuda um conjunto de desigualdades que atingem grupos de pessoas, separando-as de alguma forma. Este é um fato histórico bem representado quando Jesus estava na casa de Simão e entra uma mulher que derrama sobre a sua cabeça um perfume precioso e caro – valor do salário de um trabalhador. Alguns presentes, entre os quais Judas, o traidor, ficaram indignados e consideraram o fato um desperdício de dinheiro. Deveria ser destinado aos pobres.

A resposta de Jesus, “os pobres sempre tendes convosco. Mas a mim em tereis sempre” (Mc,14/7).

Atentem para: “podeis fazer-lhes o bem quando quiserdes”. É uma realidade que a distribuição do dinheiro gasto seria uma panaceia paliativa por um tempo. O verdadeiro sentido da caridade é proporcionar melhoria de vida permanente.

Diz o ditado que “é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe” quando se quer ajudar ao próximo, mas devemos atentar que nem sempre poderá ser assim, pois, às vezes, precisa-se dar primeiro o peixe para que o ser humano carente não morra de fome antes de conseguir aprender a pescar.

Resumindo, devemos labutar para melhorar a situação de penúria com políticas de emprego com salário justo, com moradia digna, educação, acesso à saúde pública, etc. Distribuir R$600 reais representa entregar um peixe, ascensão social para que possa prover o sustento próprio e dos dependentes equivale a ensinar a pescar.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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