Corpo nu - Silma Terra

Uma crônica dentro de outra crônica.

Lá se vão 15 anos da primeira vez que tive câncer e me pego a pensar naqueles dias de dor, dúvidas e medo. O estigma do câncer é a morte, então, sentia-me meio que entorpecida, a flutuar no limbo sem crer que a finitude estaria perto. E nesse torpor eu optava por ser otimista, levar suave e com o amor e carinho da família. Passei por este processo dia a dia, mês a mês, ano a ano. Hoje passo pela mesma situação; desta vez o câncer é na coluna e estou a pleno no tratamento.

Carregar as marcas do câncer, principalmente na mama, símbolo de toda sensualidade feminina não é fácil.

Nos relacionamentos, a dúvida é,  será que ele vai curtir uma mulher que teve câncer de mama?

Carrego no corpo as marcas de um câncer; cicatrizes no corpo, mas não na alma. Sempre encarei de frente toda essa situação. Por ser assim essa otimista inveterada, surgem convites incríveis que somente quem tem muita coragem diz sim.

Ao entrar no estúdio, a primeira coisa que ouvi foi uma amiga relatando o diálogo com o marido sobre uma determinada situação que aqui, agora, não vem ao caso.

– Eu gostaria que você não fizesse isso, disse o marido.

– Mas eu quero fazer… – respondeu ela

E cá estava ela, com outras mais 5 mulheres que disseram sim, quebrando paradigmas, ultrapassando estereótipos instalados da real beleza.

Quebrar paradigmas, há quem pense que isso não é possível, não no mundo da beleza, ledo engano. Numa tarde única, especial, tivemos momento Diva’s.

O que vivenciamos é extremamente raro, um fundir de corpo, alma e emoção. A cada instante tudo ganhava sentido, minha alma ganhava sentido e subitamente pelo olhar do outro sugerindo posições, afim de extrair os segredos por todos os ângulos.

Foram momentos de tamanha significância que o tempo tornou insignificante, nenhuma dúvida, nada que denegrisse, apenas experiências comparáveis entre si de mulheres inteiramente diferentes. Gandhi nos ensina que “ para um verdadeiro artista, só é bonito o rosto que independente do exterior, brilha com verdade interior da alma”

Ao fotógrafo Wil Koetzler, foi dado naquele dia, atender a uma necessidade íntima de sua arte, a oportunidade, sem nada de lógica ou coerência, apenas com um instinto infalível de retratar almas.

Tomado de uma lúdica emoção, olhos brilhantes, nada foi capaz de dissolver aquele momento de pura magia.

Ao olhar o resultado vem à minha mente um turbilhão de emoções e pensamentos.

Amar meu corpo é um aprendizado diário, ele é minha identidade, oferece conforto e segurança ao meu ser. A mama que tive o câncer é bem menor que a outra e obviamente isso não é uma cena que não se faça notar. Lembro todos os dias, não tem como não lembrar, não com dor, mas sim com orgulho. Olho para a mama e lembro que ali já tiveram dois tumores que poderiam ter me roubado a vida; vida e seus mistérios. Eu venci. A mama imperfeita é a marca da minha vitória.

Observar meu corpo nu, meu rosto com as marcas que determinam o tempo, natureza perfeita, quase um conto de fadas, que não permite sentimentos de carregar o corpo como se fosse uma carga qualquer. Observo o corpo jogado ao ostracismo, mas que vibra ao ouvir a voz da pessoa amada ou a música que marcou o primeiro encontro.

Um corpo que me transporta, que aninha minh’alma, que eu sinto escravizar tamanho as exigências que eu imposto a ele nesta vida concreta, real.

Um corpo com suas marcas e cicatrizes, que o espelho insiste em mostrar, mas que constroem uma história que não passa em vão, Corpo de um ventre vivo que gerou duas vidas, e que me impulsiona sensações em abundância, apesar de não ser esteticamente perfeito. Um corpo que não paralisou nas intempéries e este é o seu grande poder.

Apesar do peso, o sinto leve, suave igual a uma apresentação de balé e antagonicamente uma agitação desenfreada que ecoam desejos.

Meu corpo que uso por inteiro, de forma tentadora, que me prende em armadilhas. Um corpo que me leva por aí, com uma alegria que enaltece o espírito, com positividade, com capacidade de mobilizar suas energias internas e dar a perceber que não há cativeiro capaz de segurá-lo se não for seu bem querer, que me faz relaxar numa noite de lua cheia, céu perfeito de estrelas.

Ahhh!! Corpo que é o meu maior patrimônio, que aprendi a amar insanamente, após vê-lo nas fotos pelo olhar de Will.

Sim, fiz um ensaio nu, eu e mais 5 mulheres que resolvemos mostrar, que não existe feio ou bonito. O que há é uma beleza de forma incontestável de corpos mutilados pelo câncer, corpos com reconstrução mamária, corpos com dezenas de cicatrizes e cada uma delas com histórias para contar. Cicatrizes que são o significado de uma luta pela vida, por amor a vida. Mostrar-se sem apelo ou conotação sexual.

Cada rosto com sorrisos largos, de alegria digna e verdadeira, sem apegos a corpos perfeitos (o que é perfeito?). Enquanto muitas mulheres se preocupam com corpos magros, sem estrias ou celulites, sem gordura localizada, sem barriga saliente, nós nos preocupamos por termos nossos corpos cheios de vida.

Vida para ser vivida no seio familiar, agitar com amigos, brindar com um amor verdadeiro. Amar e ser amada, amar-se sem barganhas. Alegre-se, tenha consciência mais aberta, menos egocêntrica. Seja mais responsável com você mesmo. Estreite laços de amor e lealdade com seu próprio corpo.

Seja poderosa, busque as respostas que estão dentro de você, caso duvide de todo o poder que tens.

Acorde todos os dias irradiando energia positiva, afinal a vida vibra pra nós o que vibramos pra vida.

#teatirapravida

Silma Terra

Palestrante Motivacional, comunicadora de rádio e televisão, Youtuber e  Bibliotecária de formação.

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