Crônica de uma morte anunciada
Iniciou-se, nesta semana, o julgamento pelo STF do principal núcleo político do “mensalão”, em que sãos réus José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.
O revisor (o Bobo da Corte), Ricardo Lewandowski, patética e solitária figura, em seu voto, fora muito mais advogado de defesa dos réus Dirceu, Genoíno e Delúbio do que os próprios profissionais pelos réus constituídos.
Tudo, no entanto, se encaminha para a condenação e consequente punição dos implicados. Será este (julgamento) o divisor de águas da ética e da moral na política brasileira?
Enquanto isso não acontece, aceitei, de antemão, o convite de meu filho: “Até a pé nós iremos”, neste sábado, realizar nossas despedidas ao Estádio Olímpico Monumental.
O convite – e bem distinguiu o Angelo – não leva em conta a partida pelo Campeonato Brasileiro entre Grêmio e Cruzeiro. É, reitero, para, na despedida, prestarmos nossa derradeira homenagem àquele que foi palco de infinitas e imorredouras emoções, durante seus 58 anos, da metade dos corações rio-grandenses.
Apenas no singelo ato de escrever já me vejo tomado de indizível comoção. Por isso, não afirmo se terei coração e coragem, como teve meu amigo e parceiro de literatura, o advogado Jorge Alberto C. Vignoli, para, solitário, sentar-se nas arquibancadas da “geral”, aonde, por vez primeira, ele torceu para o tricolor no Estádio Olímpico. A companhia do Angelo, meu filho, será minha couraça, meu escudo.
Aos três anos de idade, meu pai levou- me à Baixada, primeiro “campo de futebol” oficial do meu glorioso Grêmio. Ficava o mesmo logo, logo ao final da descida da Rua Mostardeiro, à direita. À esquerda, era o elegante e seleto Jockey Club do Rio Grande do Sul.
Nos intervalos entre a partida preliminar e o jogo principal, galgava os degraus da tosca arquibancada de madeira e, no alto, através de pequenas janelas, eu avistava os páreos, então disputados.
Conheci o Olímpico, ainda em construção; pronto, fomos, meu pai e eu, ao jogo inaugural – Grêmio x Nacional de Montevidéu – num torneio triangular no qual nosso arqui-inimigo sagrou-se campeão.
Fora naquele majestoso e imponente palco, no qual fui testemunha, que as estrelas de Pelé, Coutinho, Pepe, Djalma Santos, Garrincha, Didi, verdadeiros mitos, encantaram corações e mentes dos amantes do futebol-arte.
Muitos foram os valores gremistas. Porém, meu time inesquecível – treze vezes em quatorze anos campeão –: Germinaro, Figueiró, Ayrton, Ortunho, Elton e Ênio Rodrigues; Marino, Gessy, Juarez, Milton e Vieira.
Não será por acaso que Madonna, na noite de 8 de dezembro, fechará o ciclo vitorioso do Estádio Olímpico Monumental.
Com esses pensamentos, ante a ausência de meu pai, hei de segurar, então, a mão de meu filho e, lágrimas escorrendo pelas minhas faces, pedir-lhe, Meu filho, me ajuda a cantar:
“Será difícil de compreender
Que apesar de estar hoje aqui
Eu sou povo e jamais poderei me esquecer
Peço me creiam/ Que os meus luxos apenas disfarçam
Mais nada que um jogo burguês
São regras do cerimonial/ Não chores por mim Tricolor
Minha alma está contigo,
A vida inteira eu te dedico
Mas não me deixes, fica comigo…”.*
* Trecho da canção Não chores por mim, Argentina, em que Madonna interpretou a personagem de Evita Perón, no filme Evita.