Da indiferença à misericórdia – continuação – Por Dom Jaime Pedro Kohl

IMG_1180-195x300111111111Continuando a mensagem do Papa, fica claro que para alcançar a Paz é preciso passar da indiferença à misericórdia. A resposta que Caim dá a Deus quando perguntado sobre a sorte de seu irmão, mostra o estrago que a indiferença faz.

Caim diz que não sabe o que aconteceu ao seu irmão, diz que não é o seu guardião. Não se sente responsável pela sua vida, pelo seu destino. Não se sente envolvido. É-lhe indiferente, apesar de ambos estarem ligados pela origem comum. Que tristeza! Que drama fraterno, familiar, humano! Esta é a primeira manifestação da indiferença entre irmãos. Deus, ao contrário, não é indiferente: o sangue de Abel tem grande valor aos seus olhos e pede contas dele a Caim.

De igual modo, Deus se mostrou sensível com a situação do seu povo e desceu mais vezes para conduzi-lo a libertação. Descendo ao meio dos homens, encarnou e mostrou-se solidário com a humanidade em tudo, exceto no pecado. Jesus ensina-nos a ser misericordiosos como o Pai.

Na parábola do bom samaritano, denuncia a omissão de ajuda numa necessidade urgente dos seus semelhantes: “ao vê-lo, o sacerdote e o levita passou adiante”. Muitas vezes a indiferença procura pretextos: na observância dos preceitos rituais, na quantidade de coisas que é preciso fazer, nos antagonismos que nos mantêm longe uns dos outros, nos preconceitos de todo o gênero que impedem de nos fazermos próximos.

A misericórdia é o coração de Deus. Por isso deve ser também o coração de todos aqueles que se reconhecem membros da única grande família dos seus filhos; um coração que bate forte onde quer que esteja em jogo a dignidade humana, reflexo do rosto de Deus nas suas criaturas.

É por isso que é determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia.

Também nós somos chamados a fazer do amor, da compaixão, da misericórdia e da solidariedade um verdadeiro programa de vida, um estilo de comportamento nas relações de uns com os outros. Isto requer a conversão do coração, capaz de se abrir aos outros com autêntica solidariedade.

 A solidariedade é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, pelo bem de todos porque todos somos verdadeiramente responsáveis por todos», porque a compaixão brota da fraternidade.

A solidariedade como virtude moral e comportamento social, fruto da conversão pessoal, requer empenho por parte duma multiplicidade de sujeitos que detêm responsabilidades de carácter educativo e formativo.

Penso em primeiro lugar – diz o Papa – nas famílias, chamadas a uma missão educativa primária e imprescindível. Quanto aos educadores e formadores que têm a difícil tarefa de educar as crianças e os jovens, na escola ou nos vários centros de agregação infantil e juvenil, devem estar cientes de que a sua responsabilidade envolve as dimensões moral, espiritual e social da pessoa.

Também os agentes culturais e dos meios de comunicação social têm responsabilidades no campo da educação e da formação. Há muitas organizações não-governamentais e grupos sócio-caritativos, dentro da Igreja e fora dela, cujos membros, por ocasião de epidemias, calamidades ou conflitos armados, enfrentam fadigas e perigos para cuidar dos feridos e doentes e para sepultar os mortos.

Penso também nos jornalistas e fotógrafos, que informam a opinião pública sobre as situações difíceis que interpelam as consciências, e naqueles que se comprometem na defesa dos direitos humanos, em particular os direitos das minorias étnicas e religiosas, dos povos indígenas, das mulheres e das crianças, e de quantos vivem em condições de maior vulnerabilidade. Entre eles, contam-se também muitos sacerdotes e missionários que permanecem junto dos seus fiéis.

Além disso, quantas famílias, no meio de inúmeras dificuldades laborais e sociais, se esforçam concretamente por educar os seus filhos “contra a corrente”, nos valores da solidariedade, da compaixão e da fraternidade!

Quero, enfim, mencionar os jovens que se unem para realizar projetos de solidariedade, e todos aqueles que abrem as suas mãos para ajudar o próximo necessitado nas suas cidades, no seu país ou noutras regiões do mundo.

No espírito do Jubileu da Misericórdia, cada um é chamado a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a adotar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho.

Também os Estados são chamados a cumprir gestos concretos, atos corajosos a bem das pessoas mais frágeis da sociedade, como os reclusos, os migrantes, os desempregados e os doentes.

Desejo ainda, neste Ano Jubilar, formular um premente apelo aos líderes dos Estados para que realizem gestos concretos a favor dos nossos irmãos e irmãs que sofrem pela falta de trabalho, terra e teto. Finalmente, quero convidar à realização de ações eficazes para melhorar as condições de vida dos doentes.

E os líderes dos Estados são chamados também a renovar as suas relações com os outros povos, permitindo a todos uma efetiva participação e inclusão na vida da comunidade internacional, para que se realize a fraternidade também dentro da família das nações.

Confio estas reflexões à intercessão de Maria Santíssima, Mãe solícita pelas necessidades da humanidade, para que nos obtenha de seu Filho Jesus, Príncipe da Paz, a satisfação das nossas súplicas e a bênção do nosso compromisso diário por um mundo fraterno e solidário.

Que ninguém de nós fique indiferente a esse apelo da nossa autoridade máxima a empenhar-nos na superação da indiferença, trilhando o caminho da misericórdia. Este é o caminho da paz.

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osóriodomjaimep@terra.com.br

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