Delalves Costa, um poeta a afrontar a enfinge VII
Luas no esplendor
Eles, inflamáveis, meu amor,
Seminus e ofegantes
Sob lençóis, sem pudor…
Intensos. Fogo no cio
Desnudos num só
A con(fundir) casto sabor!
Tão logo, olhos-brasa
Faíscam relâmpagos
Pelo céu de urgente amor.
E saciados
– Tombam os corpos
Luas no esplendor…
O espelho a nos fitar
– É gato a desejar… a flor!
O poema já inicia com eles, que o eu-poeta declara a seu par, eles, os corpos, naturalmente, inflamáveis, que estão seminus e ofegantes, sob lençóis, sem pudor… Logo estão desnudos num só con(fundidos), e os olhos em brasa faíscam relâmpagos pelo céu de urgente amor. Saciados tombam luas no esplendor.
E neste intenso casto sabor, saciados, quem os contempla é o espelho. E o fim inusitado, um corte no texto sugere uma inveja, um gato a desejar algo impossível, luas no esplendor, que eles conseguiram. (Eles, os corpos).
Podemos também, em vez de considerar um corte no texto, vermos uma metáfora alucinada, tipo Lorca, que já citamos, onde o espelho é a melhor testemunha a refletir os corpos saciados que tombam quais luas no esplendor, sendo que aqui a palavra refletir pode ser vista em seu duplo sentido, não comparando simplesmente a um trocadilho banal, mas sim que o espelho a refletir as luas no esplendor torna-se um gato, um animal doméstico, que afinal se diz que domestica o homem, e que este espelho, este gato, esta testemunha, a nos fitar, na sua reflexão, nos inveja, a desejar… a flor! Ou seja: as luas no esplendor, o sexo saciado, o clímax.