Do inferno ao céu em uma semana
O que dizer de, em apenas uma semana, ir do céu ao inferno? Pois é, se tivesse que resumir a última semana foi exatamente isso que aconteceu. A agência de classificação de risco Standard & Poor's optou por rebaixar os títulos da dívida norte-americana de AAA, o famoso “triple A”, para AA+. Na prática, essa mudança não foi nada, pois as duas outras grandes agências mantiveram o “triple A” dos EUA.
Ainda assim, o resultado foi uma queda generalizada das bolsas de valores no mundo. Praticamente todas as commodities seguiram a mesma direção. Os CDSs (espécie de seguro sobre empréstimo) dispararam especialmente na Espanha e Itália, atualmente as economias europeias na berlinda. Na outra ponta, o ouro e o franco suíço se apresentaram com o “porto seguro”, e atingiram máximas históricas. O VIX, indicador que mede a volatilidade, apresentou oscilações altíssimas, mostrando que investidores mundo afora estavam suando frio com as quedas. Aos que não estavam atentos ao mercado nesse dia, por míseros 139 pontos, o Ibovespa quase disparou o circuit breaker, ao perder os 9,74%, ou 47.793 pontos.
Passado o “susto” da segunda-feira, o mercado local engatou um rápida recuperação, acumulando nas 4 sessões seguintes ganhos de 9,9%, fechando a semana em alta de 1,0% aos 53.473 pontos. Isso mesmo, em apenas uma semana, investidores que discutiam sobre qual a melhor forma de alocação em renda fixa passaram a debater sobre alavancagem.
O que de fato aconteceu foi uma readequação dos mercados de renda variável ao provável novo cenário de menor crescimento da economia global. Em meio a esse movimento, questionou-se muito se os Estados Unidos deixariam de ser referência em termos de risk free, mas o que se viu foi justamente o contrário, uma vez que os investidores aceitaram menores retornos para financiar o país (treasury).
Com isso, passamos a observar o Ibovespa sendo negociado em múltiplos significativamente descontados em relação às demais bolsas de valores (P/L de 8,2x e P/VPA de 1,3x), perdendo apenas para a bolsa espanhola. Também se constatou que os mesmos múltiplos passaram a ser negociados a patamares próximos aos da crise financeira de 2008, significando dizer que 43 mil pontos atualmente equivalem aos 29 mil pontos do auge da crise passada.
Entendemos que o cenário macroeconômico internacional é complexo, porém a solução está mais clara do que a nebulosa crise de 2008, quando não se sabia exatamente seu potencial de destruição. Já o Brasil nunca esteve tão preparado para enfrentar um cenário internacional adverso. Sendo assim, apesar de entendermos que o momento é de cautela, passamos a observar o mercado acionário brasileiro em ponto de entrada tão interessante quanto o de 2008, principalmente para investidores que buscam retorno de longo prazo.