Dólar desaba, mas preço da gasolina não deve cair

A queda do dólar, que já é superior a 8% em 2007 com o fechamento da moeda em R$ 1,952 nesta quinta-feira (17), deve beneficiar as empresas que consomem alguns derivados de petróleo no país, como óleo combustível, querosene de aviação (QAV) e da nafta petroquímica. Esse efeito positivo não deve chegar, no entanto, ao bolso dos motoristas brasileiros que utilizam gasolina e óleo diesel. Essa é a avaliação dos especialistas no setor de petróleo e gás ouvidos pelo G1.

A Petrobras adota critérios diferentes para reajustar os derivados de petróleo. No caso do óleo combustível, do querosene de aviação e da nafta petroquímica, a estatal repassa mensalmente para o mercado brasileiro as oscilações no preço praticado no mercado internacional.

Para a gasolina, o gás de botijão (GLP) e o óleo diesel, a empresa não segue a taxa de câmbio – além de fatores econômicos, o desgaste político de um aumento dos combustíveis também é considerado.

De acordo com o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o último reajuste da gasolina aconteceu em setembro de 2005. Depois disso, o dólar e o preço do petróleo subiram e desceram, mas o preço praticado pela Petrobras ficou estável.

Ele lembra que as mudanças no preço ao consumidor só ocorreram nas distribuidoras e postos, por causa do aumento de custos dos revendedores ou da queda na demanda pelo produto. Ou seja, nada a ver com o dólar ou com a Petrobras.

Um dos motivos pelos quais a Petrobras não segue os preços internacionais da gasolina é que a produção nacional é mais que suficiente para abastecer o mercado brasileiro. Já no caso do diesel, o fato de haver importação não é suficiente para levar a estatal a mexer no preço.

Para David Zylbersztajn, ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), há também outra explicação para essa cautela da estatal em mexer nos preços dos combustíveis que mais afetam a vida do consumidor.

“É sempre uma mudança arriscada. Se você reduzir o preço agora, pode ser que lá na frente tenha de aumentar”, diz Zylbersztajn. Segundo ele, essas mudanças têm um impacto muito forte sobre a inflação e a vida das pessoas. Por isso, acabam trazendo incertezas para a economia e desgaste político para o governo.

Ele diz que a Petrobras só irá mexer no preço da gasolina e do diesel se acreditar que a tendência de queda do dólar e do petróleo é algo permanente. “Se o dólar se mantiver nesse nível, em algum momento a Petrobras terá de fazer um ajuste para baixo”, diz.

Para o professor Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe-UFRJ, a estatal já deveria repassar essa queda para o consumidor, mas não o fará. “Não acredito que a Petrobras vá transferir essas vantagens agora, embora devesse.”

Ele lembrou as palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou ontem que a queda do dólar é boa “para quem vive de salário”. Segundo Bacoccoli, uma redução no preço da gasolina seria boa do ponto de vista político. “Se é bom para quem vive de salário, vamos reduzir o preço das coisas”, afirmou.

Perda para a Petrobras
Para o analista de investimentos Daniel Gorayeb, da corretora Spinelli, a Petrobras não tem motivos para repassar a queda do dólar para os preço ao consumidor, já que a empresa tem sido prejudicada, e não beneficiada, pela variação cambial.

Ele lembra que, no primeiro trimestre deste ano, o dólar foi um dos vilões do balanço da Petrobras, que teve um lucro quase 40% menor. O câmbio teve um impacto superior a R$ 1 bilhão no resultado da empresa, o que reduziu o lucro no trimestre para R$ 4,13 bilhões.

Em primeiro lugar, o petróleo exportado pela estatal, em dólares, rendeu menos reais para a empresa. “Mesmo que o petróleo fique no mesmo nível, o valor em reais é menor”, diz Gorayeb.

Outro problema é que as empresas controladas pela Petrobras no exterior remeteram dólares que também renderam menos reais na hora da conversão cambial. Além disso, a empresa é credora em dólares, o que também prejudica o resultado da companhia quando se considera a desvalorização dessa moeda frente ao real.

Segundo ele, um aumento na receita em reais com a venda de combustíveis vai ajudar a compensar a perda da empresa com o câmbio. Até porque, no ano passado, quando os preços do petróleo subiram, a empresa absorveu as perdas, que não foram repassadas ao consumidor. “Ela não teria porque mexer nos preços agora.”

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