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Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe…

A penúria a que o desgoverno federal, sobremaneira nos últimos vinte anos, vem infligindo ao Estado do Rio Grande do Sul (e aos demais Estados da Federação), repercute impiedosamente nas instituições dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

O tentáculo centralizador não poupou sequer as prefeituras dos mais recônditos municípios do interior da sua famélica ganância.

Os cofres esvaziaram-se, as receitas perderam a valia e os responsáveis por cada uma daquelas células públicas se vê, hoje, compelido a barganhar a sua folha de pagamento a quem apresentar oferta mais vantajosa – leia-se os grandes e sanguinários tubarões: os bancos da iniciativa privada – pelo prazo contratual, via de regra, de cinco anos.

Para que o leitor tenha uma idéia mais clara desse quadro que, infelizmente, não é oriundo de um fictício filme de terror, a prefeitura municipal de Capão da Canoa transferirá a sua folha para o Banco Santander. O executivo municipal de Porto Alegre aguarda, apenas, o sinal verde do Tribunal de Contas. Ora, o que irá impedir o leilão da folha de pagamento do executivo municipal se o próprio poder judiciário gaúcho já processa tal saída emergencial?

Perdem o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e os sobreviventes bancos estaduais, no caso, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Mais do que perder, serão “desfigurados” os funcionários públicos, os policiais, civis e militares, os agentes da saúde, a professorinha, e, mais vil e covardemente, os aposentados e as pensionistas.

Lembrar dos quiméricos idos em que o Rio Grande do Sul, por sua pujança agro-pecuária, não apenas era reconhecido como o “celeiro do Brasil” mas, a exemplo de São Paulo e de Minas Gerais, era uma autêntica e sólida fortaleza econômico-financeira representada pelas suas instituições bancárias genuinamente gaúchas: Bancos Província, Sulbanco, Nacional do Comércio, Banrisul, Agrícola Mercantil, Crédito Real, RioGrandense de Expansão Econômica, Frederico Mentz e Banco Portoalegrense.

O Banco da Província do Rio Grande do Sul, fundado pelo Imperador Pedro II, detinha, juntamente com o Banco da Bahia, o título de Banco Comercial Mais Antigo do Brasil.

Todas essas instituições bancárias ou cerraram definitivamente suas portas ou fundiram-se em “bandeiras” outras que, por sua vez já foram engolidas pelo poder econômico. Província, Sulbanco e Nacional do Comércio transfiguraram-se no Sulbrasileiro, mais tarde Meridional que, por sua vez foi engolfado pelo Santander, aquele, sugestivamente, da rubra bandeira.

Pois o todo-poderoso “touro espanhol” está prestes a se tornar um dos três maiores bancos do Brasil, vez que o holandês ABN Amro (leia-se Banco Real) aceitou a oferta de 100 bilhões. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) avalia os efeitos dessa mega-operação nos segmentos de cartões de crédito, seguros, corretagem de títulos e gestão de recursos de terceiros.

E para nós, compulsórios correntistas, será que restará o papel de involuntários participantes del encierro* das famosas Festas de San Fermin?

* encierro – É a famosa festa em que um bando de loucos vestidos de branco e vermelho foge de touros enfurecidos pelas ruas da cidade.

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