E se fosse aqui?
Lembraram o caso de professoras barbaramente espancadas por seus alunos, como foi o caso da pedagoga Jane Antunes, orientadora educacional da Escola Factum – Ensino Técnico, em Porto Alegre, atacada com uma cadeira e a socos no rosto pelo aluno do curso de técnico em enfermagem, Rafael Soares Ferreira, 25 anos; da professora Gláucia Teresinha Souza da Silva, que foi internada com traumatismo craniano depois de ser agredida por uma estudante de 15 anos da Escola de Ensino Fundamental Bahia, também em Porto Alegre, após discussão quando a professora tentou repreender a aluna e levá-la à direção da escola por atos de indisciplina.
A adolescente empurrou Gláucia, que bateu a cabeça na parede e desmaiou; e da professora Denise Bandeira, de Viamão, processada pela mãe do aluno que ela obrigou a repintar a parede da escola que ele próprio pichara.
Não bastassem esses degradantes episódios, a política para a educação no Rio Grande do Sul está no centro de uma divergência evidente entre integrantes do primeiro escalão do governo estadual. É flagrante o descompasso entre os discursos do secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, do chefe de gabinete e braço direito do governador Tarso Genro, Vinicius Wu, e a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, no que dizem respeito à reestruturação do plano de carreira dos professores. A palavra mais temível pelo professorado é a “meritocracia”.
Como consolo à injusta e avassaladora inversão de valores imposta pelos alunos, aos professores basta dizer-lhes que Nova York adotou uma solução drástica: coloca, de igual forma, professores que sofreram agressões físicas por parte dos alunos – até que tudo seja devidamente apurado –, juntamente com colegas declarados incompetentes, com os suspeitos de alcoolismo, agressão física contra alunos e assédio moral ou sexual, de castigo. Quase 700 deles são pagos para não dar aulas. Eles passam os dias de trabalho confinados em salas vazias, dentro de complexos chamados de Centros de Recolocação Temporária. Desde 2002, o governo usa o mesmo sistema para afastar, em definitivo, os incompetentes. Esta estratégia vem demonstrando exceçentes resultados.
Os professores são vigiados por dois seguranças e dois supervisores da Secretaria de Educação, têm horário para chegar e ir embora (o período corresponde ao dia de trabalho normal, das 8 às 15 horas) e não podem acessar a internet nem falar ao celular. Em resumo, fazem quase nada o dia inteiro.
E isso pode durar anos. Quando um professor é denunciado, é afastado imediatamente. Em seguida, um árbitro indicado pelo sindicato dos professores começa a investigar se a acusação procede. Em caso positivo, o profissional é demitido. Em caso negativo, ele é reintegrado. Mas, por exigência do sindicato, os árbitros só trabalham nos casos cinco dias por mês. Isso faz com que, na média, cada investigação demore três anos para ser concluída.
Não compactuo que deixar um professor de “castigo” dentro desses moldes seja a solução, pois não vai à raiz do problema. E a raiz do problema muito provavelmente está na formação docente, nas condições de trabalho do professor (que aqui no Brasil são ainda mais graves), nos alunos e seu grupo familiar e, principalmente, na sociedade como um todo.