Escritores Independentes

Dois épicos do cinema universal, Spartacus (1960), do premiado diretor Stanley Kubrick, e A Batalha dos Três Reinos (2008), de John Woo, destacaram–se pela maestria e mão forte de seus diretores e pelos recursos técnicos utilizados nas imponentes cenas de batalhas campais, sobretudo do primeiro, por se tratar de produção dos anos 60, onde a técnica do virtuosismo fotográfico ainda dava seus primeiros passos.

A magia e o encantamento das cenas de combate de ambos os filmes, exigiram de seus diretores talento ímpar para coordenar as ações de várias dezenas de milhares de guerreiros.

Em Spartacus, nas cenas de combate, a câmera fecha-se (close) somente nas personagens de Kirk Douglas (Spartacus) e Laurence Olivier (Crassus); o mesmo ocorre com Fengyi Zhang (Cao Cao), Yong You (Liu Bei) e Chen Chang (Sun Quan), n’A Batalha dos Três Reinos. As dezenas de milhares de guerreiros, – figurantes – são, no calor da refrega, todos enfocados em câmera aberta.

A 58ª Edição da Feira do Livro de Porto Alegre traz no seu programa os lançamentos e autógrafos de mais de 600 autores, nacionais e alguns estrangeiros.
A Feira do Livro de Porto Alegre, juntamente com a Jornada Literária de Passo Fundo, é o maior evento do calendário cultural do Estado. Deveria, concomitantemente, ser a grande vitrina para que novos e ainda desconhecidos talentos das letras dissessem para que vieram.

Princípio milenar, e exaustivamente proferido pelo Ministro Levandowski, na Ação Penal 470, do STJ, “O que não está nos autos não está no mundo”, parece ser o mesmo aplicativo aos mais de 550 do total de escritores inscritos para as sessões de autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre. Quem não estiver sob o manto protetor do vínculo empregatício do “Grande Irmão” ‘(Grupo RBS) estará fadado a ver a sua fila de leitores resumida a familiares, amigos e parentes.

E como desejar resultado maior para esses escrevinhadores independentes, que despendem de suas próprias economias para fazer frente aos custos da edição de suas obras, desassistidos de qualquer patrocínio ou incentivo cultural? Como esperar que o leitor, ávido por novidades reconheça no rol, impresso em ínfimos caracteres, dos autores do dia aquele que poderá vir a ser para si uma grata surpresa?

Por coerência e bom senso, um jornal ou emissora de TV, respectivamente, não têm porque destinar suas páginas e os preciosos minutos de sua grade de programação a bajular os versinhos de quem apenas sua própria mãe vê graça e “talento”. De igual forma, por questão de equanimidade, não deveriam, na sua política protecionista e incorreta, dirigir as luzes dos seus holofotes apenas para seus empregaticiamente subordinados.

Não bastassem a página e meia com que o “Grande Irmão” (que também detém direitos sobre conceituada editora gaúcha) presenteia seus apaniguados trabalhadores e editados, estes “trocam figurinhas” na “rasgação de sedas” sobre o lançamento da nova obra do vizinho de redação.

Por mais numerosos os parentes e leais amigos, estes – por si só – não garantem o merecido lugar na planície ao novel escritor, ainda que extremamente talentoso.
Então, respondam-me, o que resta para os teimosos Escritores Independentes, para os, em última análise, meros figurantes do despótico cenário literário rio-grandense?

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