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Esse milhão é meu – Sergio Agra

Esse milhão é meu - Sergio AgraSERGIO AGRA – Intelectual não vai a praia. Intelectual bebe.

ESSE MILHÃO É MEU!

 No final da década de 40 e no decorrer dos anos 50 as salas dos antigos cinemas de calçada aos domingos invariavelmente se encontravam lotadas.

A Atlântida, extinta produtora de cinema, faturava barris de Cr$ (Cruzeiros) com as comédias que ficaram conhecidas como “Chanchadas”, protagonizadas pela dupla Oscarito e Grande Otelo, Ankito, Zezé Macedo, Cyll Farney e Eliana (o par romântico), Anselmo Duarte e tantos outros.

Descobri algumas dessas relíquias no Youtube. Há tempo assisti à comédia “Esse Milhão é Meu”, com Oscarito, Sonia Mamede, Zezé Macedo, Agildo Ribeiro e um grande número de figurantes. Este filme, sob a direção de Carlos Manga, foi produzido em 1958.

Resumidamente, o enredo conta a história de Felismino Tinoco (Oscarito), um funcionário público. Ele mora com a mulher e a sobrinha na casa dos sogros, Agostinha (Zezé Macedo) e Janjão. Em razão de sua presença diária na repartição, o funcionário é premiado com cheque de um milhão de cruzeiros. Convencido pelos colegas, Felismino decide comemorar o fato na boate Sevilla Club, onde encontra a dançarina Arlete (Sonia Mamede). Interessada no dinheiro, Arlete trama um plano para enganar o funcionário, simulando um crime. Felismino cai na armadilha e é chantageado. Mas sua sobrinha Sueli desmascara Arlete.

A trama, como todas as das comédias da Atlântida, é simplória, ingênua, mas era o desopilador das famílias e da garotada após as tensões com o trabalho, com as lides domésticas ou com as provas escolares.

Por que estou eu agora a analisar uma comédia (ou chanchada) do meado do século XX? Exatamente porque, em 1958, ano da produção, no diálogo entre Arlete e Felismino, este, assustado com a possibilidade de ser procurado pela polícia, diz à dançarina: – “E agora? O pior de tudo é que eu não tenho imunidade parlamentar!”.

A Câmara e o Senado receberam uma chinelada do eleitor brasileiro que deu um basta, acima de tudo à corrupção. Muitos políticos carreiristas não foram reeleitos e, por conseguinte, no final de seu mandato perderam a maldita, a ominosa imunidade parlamentar.

Mas até o minuto final do mandato muita água suja passou por baixo da ponte, através do espírito de corpo e de algum inescrupuloso projeto votado na calada da noite que salvaguardasse os crápulas de saírem do Congresso Nacional em algemas. Isso se, sorrateiramente, não abandonassem o País antes do final do ano legislativo, ou fossem, por seu compincha governador eleito, convidados para uma Secretaria Estadual do Mata-Mosquitos, ou Secretaria da Criação de Minhocas, ainda que somente se atribui prerrogativa de foro especial nas ações de improbidade quando o réu é governador de Estado, não é certo que em tais ações de improbidade os secretários de Estado respondam em primeiro grau, uma vez que há no STJ precedentes em sentido contrário:

 . Afinal, na cabeça imunda e necrosada de cada um deles, com certeza, persistia a ideia de que “Este milhão é meu!”.

Em dólares, bem entendido?

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