Estrelas não suportam que lhes façam sombra

Quem lidera ou detém o comando de um grupo nem sempre se vale de uma virtude fundamental na interação com seus liderados, com seus comandados. Aflora, nessa circunstância, o lado perverso, despótico, totalitário, arrogante, megalômano e narcisista.

Nas crônicas esportivas desta semana, ainda que os “cartolas” do Grêmio Football Porto-alegrense, em vão, tentem administrar internamente o impasse criado entre Celso Roth e o atleta argentino, Miralles, o fato transcendeu as colunas dos jornais.

Não está em discussão a competência profissional de Roth, mas sim sua reconhecida personalidade de turrão, bronco, asno vestido quando, por questões pessoais, não simpatiza com comandado seu. Basta lembrar episódios anteriores: no Grêmio, Itaqui titular e Ronaldinho Gaúcho reserva; no Internacional, Alecssandro, no freezer – imaginem! – Landro Damião. Vanderley Luxemburgo – outro exemplo – no trato pessoal (com imprensa, atletas e, pasmem, com próprios colegas) é campeão na “arte” do despotismo, da arrogância, do narcisismo e do estrelismo.

Em meio à madrugada, acordei ante a sensação de asfixia. Seria decorrente do pesadelo que tivera? Sonhara (ou “pesadelara”?), certamente sugestionado pelo “affaire” RothxMiralles, que eu era titular no ataque da imbatível “Academia do Futebol”, o Palmeiras.

Eis que, de repente, assume a Comissão Técnica do ”Verdão” ninguém menos do que o prepotente Luxemburgo. Em sua palestra inaugural olhou-me de cima a baixo e, apontando com o dedo indicador, sentenciou, Você ficará agora na equipe dos reservas!

Sempre me destacara como o melhor nos treinamentos, os repórteres setoristas reconheciam minha técnica e dedicação. Luxemburgo, no entanto, sequer me relacionava para o “banco” nas partidas oficiais. Quando o fazia, esperava o árbitro reserva levantar a placa luminosa com o tempo de acréscimo e autorizava o meu ingresso. Nas três últimas partidas de um Campeonato Brasileiro, saltitando na beira do gramado, testemunhei o juiz apitar o final do jogo. Sequer entrara em campo. Renunciei, então, ao que mais sabia e tinha prazer em fazer: jogar futebol.

Irremediavelmente desperto, busquei em minha biblioteca “A Interpretação dos Sonhos”, do meu guru – embora por muitos combatido e visto como superado –, Sigmund Freud. É uma edição com 614 páginas, comemorativa aos 100 anos da primeira publicação de Die Traumdentung.

Os conhecimentos desenvolvidos por Freud trouxeram os sonhos para o campo da Psicologia e demonstraram que estes são tão somente a realização de desejos, disfarçados ou não, satisfeitos em pleno campo psíquico. Para embasar sua obra, Freud buscou o entendimento de vários teóricos, como o do fisiólogo alemão, Karl Friedrich Burdach (1776/1847), do qual sou partidário. Diz Burdach: “Nos sonhos, a vida cotidiana, com suas dores e seus prazeres, suas alegrias e mágoas, jamais se repete. Pelo contrário, os sonhos têm como objetivo verdadeiro libertar-nos dela. Mesmo quando toda a nossa mente está repleta de algo, quando estamos dilacerados por alguma tristeza profunda, ou quando todo o nosso poder intelectual se acha absorvido por algum problema, o sonho nada mais faz do que entrar em sintonia com nosso estado de espírito e representar a realidade em símbolos”.

Agora, decodificar esses símbolos – reserva da “Academia” e ad aeternum rancor do Luxemburgo –, já é outra história.

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