Feira do Champanhe: a alegoria

A exemplo de sua vizinha, Sbornia, que durante cinco anos consecutivos atraíra com excepcional sucesso para suas edições da Feira do Espumante multidões oriundas dos mais variados recantos, Bobolândia decidiu chamar para dentro de seus muros a edição da 6ª Feira do Espumante.

Com a pretensão de mostrar aos visitantes que esta seria uma Feira “diferenciada” em comparação com as idealizadas em Sbornia, Bobolândia cometeu o primeiro, dentre um festival de nonsense: “trocou” para “Champanhe” o que corretamente era sabido, identificado e “localizado” como Feira do Espumante.

Que chique e radical!

Levando-se em consideração o fato, de que só podem ser designados de champanhe os espumantes feitos na região de Champagne, na França, criou-se o termo correto de espumante aos produzidos nas demais regiões do planeta. Afora isso, Bobolândia dava mostras de que a programação da 6ª Feira deveria, em muito, superior às cinco de Sbornia. Estandes multicolores foram erguidos. Neles se expuseram o resultado do trabalho de Produtores nacionais e estrangeiros.

Toda a Feira, mesmo no ato solene de sua abertura, há de se caracterizar, pelo seu espírito festivo e cultural, com discursos e pronunciamentos revestidos, como no presente caso, tão somente de palavras de incentivo ao culto, à apreciação ao amor pelos espumantes. O homenageado da Feira, o Patrono (jamais se diga Patrão ou Patroa; essa expressão é propriedade dos nossos CTG’s, fui claro?), via de regra, se transfigura na pessoa de ilustre Viticultor ou Produtor, escolhido por uma comissão de renomados Sommeliers (profissionais especializados em conhecer os vinhos e de todos os assuntos relacionados ao serviço deste). E a ele, o Patrono, o Viticultor, devem ser priorizadas todas as manifestações de apreço.

O que constrangidamente se assistiu naquela solenidade de abertura foram pronunciamentos extemporâneos: – um cidadão (como orador era mais excelente chef de cozinha) dissecou, num monocórdio interminável, a “planilha contábil” das atividades de sua instituição; acessores do burgomestre em ressentidos pronunciamentos entenderam ser mais útil apregoar seus feitos, “matando a cobra e mostrando o sarrafo”. Sequer fizeram menção ao Viticultor, ao Patrono da Feira e sua rica produção. O mimo a esteoferecido ao final – mais do que reconhecimento e agradecimento – soou como um “Olha, antes que eu me esqueça, tá qui a lembrancinha”.

Mesmo com os inevitáveis e até naturais percalços, todos – inclusive o escriba  – desejaram a Bobolândia, igual sucesso ao de Sbórnia.

In vino veritas!*

*Alegoria – figura de linguagem em que algo representa ou significa qualquer outra coisa diferente. Da mesma forma, dá-se o nome de alegoria à obra literária ou artística de sentido alegórico. Alegoria é, neste sentido, um tema artístico ou uma figura literária que permite representar uma ideia abstracta através de outras formas.

**In vino veritas – No vinho está a verdade

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