Foi o 20 de setembro o precursor da liberdade (mas que liberdade, Farroupilha?)

Foi o 20 de setembro o precursor da liberdade (mas que liberdade, Farroupilha?)Invariavelmente, desde o primeiro alvorecer de setembro – sob extemporâneo e escaldante sol ou sob as intempéries das chuvas de granizos, dos vendavais e do amedrontador relampejar –, piquetes são armados no Acampamento Farroupilha, junto ao Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre.

Gaúchos pilchados, montados em suas cavalgaduras, prendas vestidas em seus trajes típicos ali acampam até o 20 de setembro, a data comemorativa da Revolução Farroupilha. E dê-lhe contação de causos, dê-lhe churrasco, dê-lhe fandango, trago e mulher…

Ainda que não me mostre simpatizante, aficionado das exacerbadas manifestações do tradicionalismo gaúcho, torci para que desta feita, ao contrário do ano anterior, atos de preconceito e autoritarismo não ocorressem naquele guasca abarracamento.

Naquela ocasião, o Piquete Aporreados do 38 intentou contar a história dos escravos arregimentados para a luta, gerando revolta, polêmica e pedido de desculpas por parte do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), organizador do evento.

No espaço destinado ao grupo de tradicionalistas do Piquete Aporreados do 38 fora reproduzida uma senzala para “lembrar o local” de onde saíram os soldados negros que engrossaram as fileiras dos revolucionários e acabaram dizimados no conhecido episódio histórico dos Lanceiros Negros, traídos que foram pelos seus comandantes. Naquela instalação, que tinha uma fachada toda pintada de preto com a palavra Senzala em branco, manequins apareciam acorrentados a pedaços de madeiras para representar a tortura que o povo negro sofrera no período mais sórdido da Históriada Rio Grande e do Brasil. O projeto causara muita revolta e indignação e acabou sendo fechado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) que repudiou “toda e qualquer forma de discriminação com o povo negro”.

Discordo, data vênia, dessa esdrúxula argumentação. Tolhera-se a decantada “liberdade” entoada no Hino, no caso, à manifestação materializada na reprodução da senzala e a traição que vitimara aqueles escravos. A representação não trazia inverdades, fatos enganosos, menos ainda “discriminação”. Pelo contrário! O cenário pretendera não deixar cair no esquecimento, ainda que vergonhosa aos brios da gauchada,uma dolorosaverdade!

O próprio Hino Rio-grandense não arrosta em seus versos que “sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra”?…

Que no desfile desta sexta-feira, contritos, os engalanados sul-rio-grandenses, do alto de suas garbosas e bem-tratadas montarias, façamo devido reconhecimento àqueles negros que tombaram em nome de uma Guerra que ainda permanece na ambiguidade de “como ela realmente foi e como o gaúcho pensa que foi”.

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