Colunistas

Galponeiro

Por ter iniciado minha vida na Pampa eu tive uma Cultura  Galponeira que marcou-me, para sempre…!!!

Como um galponeiro, eu aprendi que o peão de estância tinha acima de si, o capataz. Este tinha tanta autoridade que até os filhos do patrão, hierarquicamente, lhe obedeciam. Depois do capataz, somente o dono da estância.

Dentro deste cânone de respeito à autoridade eu cresci, pedindo licença para entrar em casa alheia, cumprimentando as pessoas, de mão em mão, me calando quando os mais velhos falavam, não dando opinião quando não era solicitado e guardando a distancia necessária para o estabelecimento de uma relação respeitosa, mesmo que de amizade ou familiar.

Na escola para onde fui, para aprender a ler, depois de ser educado em casa, eu aprendi que a professora era a autoridade sem contestação, na sala de aula e que a diretora era algo que ficava acima da minha imaginação.

Os meus colegas eram companheiros de caminhada na busca da informação e da sabedoria e que, se eu pretendesse que me respeitassem lhes devia respeito e consideração em decorrência da igualdade que entre nós se estabelecia.

Procedi assim, no meu primeiro emprego no Banco da Província do Rio Grande do Sul e, depois, no Banco da Amazônia. Após aposentar-me, como bancário, trabalhei no Incra, na OAB, na CRT ,na Telefonica e na Vant, e tanto como peão e depois como capataz, observei estes mesmos conceitos  de respeito e de consideração pelas pessoas e pelos papéis que desempenham no mundo das relações  profissionais e sociais.

Hoje, trabalho por conta própria e procuro seguir a minha estrada real, observando, sempre, o limite paralelo dos alambrados levantados pelo respeito ao trabalho e a dignidade das pessoas.

Este comportamento, ao contrário de me tolher a liberdade me proporciona uma caminhada tranqüila, na qual tenho um grande numero de amizades, que me devotam uma consideração especial pela maneira como as cultivo e as prezo.Principalmente, pelo maneira como as respeito.
 
Por estas razões me sinto, às vezes, meio fora de tempo e sem saber como agir, quando vejo e quando presencio atitudes como as dos médicos que deixam uma criança morrer por se recusarem a fazer uma cirurgia pelo SUS. Estes médicos não tem chefe? Não tem uma autoridade superior a qual, por contrato estejam submissas?  E mesmo que não tivessem uma autoridade a qual devessem dar conta de seus atos, não estão obrigados por juramento a prestarem assistência de maneira incondicional a quem deles  precisa e os tem como última instância possível para salvar uma vida? E por que, ninguém os chama à responsabilidade e os obriga a prestarem contas da atitude tomada em total afronta aos mais elementares princípios de profissionalismo e de humanidade? Na pampa jamais um peão deixaria um terneiro ou borrego morrer por falta de curar uma bicheira ou arrastá-lo de algum banhado em que estivesse atolado… Se não tomasse uma atitude salvadora, com certeza, seria despedido!!!
 
Senti-me, também, meio fora do tempo, quando o vi o menino Neymar, na semana passada, discutir com seus colegas do Santos e de maneira descontrolada e sem medidas, desacatar publicamente o técnico do seu time ao contestar suas ordens e sua autoridade. O técnico ao tentar impor sua autoridade ( no galpão ele seria o capataz) acabou sendo demitido pelos dirigentes do Santos que o expuseram a execração nacional e mundial desmoralizando-o como profissional e como pessoa. 

Um fato destes no ambiente social em que eu fui criado jamais aconteceria. Esta inversão de valores que hoje vige, em nosso pais, é inadmissível na estrutura das relações profissionais e humanas que  orienta aqueles que tem cultura galponeira.  Explique-se, que este tipo de relação não compreende a obediência cega, por parte dos comandados, ou atitude de arbitrariedade por parte de quem manda, mas está fundamentada no respeito e na conduta que deve nortear as relações dos homens e mulheres que conhecem os papéis que lhe são atribuídos em razão das suas responsabilidades individuais.
 
Constato, para finalizar que o caso dos médicos que se negaram a operar uma criança e do menino sem respeito e sem educação, do Santos, não são casos isolados em nossa cultura.
 
Hoje, no país, não se respeita a autoridade materna ou paterna, não se respeita os irmãos, não se respeita os professores, os colegas de aula ou de trabalho, não se respeita os símbolos nacionais, o patrimônio público, não se respeita os conceitos de pátria, de civilidade, de cidadania, não se respeitam mais as instituições políticas, não se respeita mais o saber, o conhecer, o sentir, tudo é definido por leis de superficialidade e de descaso, de favorecimento pessoal, de obtenção de vantagens individuais em  detrimento de vantagens coletivas e universais.

Aqui da minha página no Litoralmania, lanço um manifesto – pobre e quixotesco manifesto – de que é preciso voltar a estabelecer os conceitos de respeito. Talvez não o respeito galponeiro, pois este se perdeu no tempo e no espaço, mas um respeito que, mesmo moderno, nos permita criar condições  possíveis para  reverter o nosso comportamento como Povo, como Sociedade e como Pátria sob pena de, se nada se fizer, perpetuar-se o deboche , a arrogância, desfaçatez,  a vilania, o caos  e  impunidade, como referencia de comportamento dos brasileiros.

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