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Haiti ainda não recebeu um terço da ajuda humanitária de que precisa

Apesar de toda a ajuda humanitária que já chegou às áreas afetadas pelos quatro furacões que atingiram o Haiti nas últimas semanas, ainda não se chegou nem a um terço do que o país caribenho precisa. A afirmação é da diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), Josette Sheeran.

“Nós precisamos de mais ajuda para a população do Haiti”, afirmou nessa sexta-feira (26) ao chegar à cidade de Gonaives, uma das mais atingidas, especialmente pelos furacões Hannah e Ike. O que exatamente é necessário? “Comida, remédios, água; o básico”, resumiu antes de subir em um comboio do WFP, junto com tropas argentinas responsáveis pela segurança da região.

Juntamente com um contingente peruano de 87 homens, as tropas argentinas, que somam 430 militares, integrantes da força de estabilização da Organização das Nações Unidas no Haiti, a Minustah, têm atuado não só na limpeza de ruas, com a retirada de lama e lodo – tarefa para o qual homens da engenharia militar brasileira também foram deslocados da capital Porto Príncipe – mas,principalmente, na distribuição de ajuda humanitária.

A chegada de alimentos – arroz, feijão ou soja e óleo – ocorre pelo Porto Novo, onde estão acampados os peruanos. Praticamente todos os dias há distribuição em diferentes partes da cidade. Organizações não-governamentais ajudam na entrega, distribuindo senhas.

No entanto, isso não impede que mais pessoas procurem o local, para tentar conseguir restos do que foi distribuído, os últimos grãos já misturados com a terra. As filas são sempre grandes e muitos ficam sem a comida doada. Nessa sexta, por exemplo, somente em um ponto foram distribuídas 40 toneladas de alimentos, que não duraram mais de três horas.

Pelo menos 80% dos moradores da cidade, de aproximadamente 350 mil habitantes, foi afetada, inclusive a base argentina, cujo muro veio quase todo abaixo. Nas áreas mais baixas, a água chegou a subir dois metros – 1,8 metro na base da Minustah. “Essa situação se manteve e piorou com o segundo furacão [que atingiu a cidade, o Ike], que passou um pouco mais ao norte”, explicou o segundo comandante do batalhão argentino, capitão de fragata Carlos Buen.

Vinte dias depois da passagem do último furacão, o Ike, a água já baixou em grande parte de Gonaives. No entanto, fica a lama, retirada das ruas pelas tropas, mas que aos poucos volta à medida que a população retira o lodo de dentro de suas casas.

Na praça da cadeia e da catedral, que está servindo de abrigo, ainda é possível ver muita água e material orgânico se decompondo. O cheiro beira o insuportável. Ainda assim, a população tenta retomar as atividades – pessoas vendem, compram e comem próximo ao lixo, à lama e aos porcos. Ainda se vê pessoas morando em cima de lajes de casas, crianças brincando na lama, mulheres limpando os pés e lavando roupa na água suja. Isso sem falar nos carros virados e nas linhas de transmissão de eletricidade caídas.

De acordo com o WFP, já foram registrados inúmeros casos de problemas de pele, infecção respiratória, disenteria, hepatite, tétano, tifo e há sério risco de uma epidemia de malária.

Pelo menos 50 mil pessoas continuam em abrigos. De acordo com números do Programa Mundial de Alimentos, desde 5 de setembro já foram distribuídas 1,78 mil toneladas de comida. No entanto, a estimativa da organização é de que mensalmente, durante seis meses, seriam necessárias 3,2 mil toneladas.

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