Ilha da África quer embaixada no Brasil
Ilhas Maurício, considerado o país mais bem governado da África, quer estreitar os laços comerciais com a América Latina. E o local favorito para abrir a primeira embaixada no continente é o Brasil. “Somos uma história de sucesso no Continente Africano, e agora achamos que é possível buscar novos mercados”, disse o ministro de Negócios Estrangeiros, Integração Regional e Comércio Internacional, Arvin Boolell, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo o ministro, o país busca espaço nos mercados emergentes. “Queremos ser uma plataforma para Índia e China. Estamos bem localizados e temos instituições consolidadas”. Pelo terceiro ano seguido, Ilhas Maurício apareceu em primeiro lugar no Índice de Governação da Fundação Mo Ibrahim, que mede a distribuição de bens e serviços públicos dos países africanos. O índice dá notas a indicadores tão variados quanto fornecimento de energia elétrica e água potável, gestão pública, acesso à educação, segurança jurídica e pessoal e respeito aos direitos humanos. A média africana foi de 49 pontos. Maurício obteve 82.
Além de Maurício, somente Líbia e Ilhas Seychelles têm Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado alto em toda a África. “É algo que muito nos orgulha”, disse o ministro Boolell. “O resultado se deve ao respeito às leis e aos direitos humanos. Nossas instituições democráticas e políticas macroeconômicas são muito sólidas”.
O arquipélago foi descoberto pelos portugueses em 1505, colonizado por holandeses (que batizaram o lugar em homenagem ao príncipe Maurício de Nassau), controlado por franceses e, depois, por britânicos. A eles se misturaram indianos, africanos do continente e malgaxes (originários da Ilha de Madagascar). Hoje, 70% da população de 1,2 milhão de habitantes descendem de indianos e metade professa o hinduísmo. Cerca de 35% são cristãos e 15%, muçulmanos.
A independência da Inglaterra veio em 1968, mas o país tornou-se república somente em 1992. Desde então, as eleições são regulares, o governo é estável e os direitos humanos respeitados. A estabilidade atraiu grande volume de investimento estrangeiro, gerando a maior renda per capita da África (U$ 12,1 mil em 2008).
Primeira zona franca do Oceano Índico, o país saiu da base agrícola para a diversificação na indústria e nos serviços. Durante muitos anos, o crescimento anual não foi menor que 5%. São mais de 32 mil empresas offshore, a maioria voltada para o comércio com a Índia, África do Sul e China. Somente o setor bancário responde por mais de U$ 1 bilhão (R$ 1,66 bilhão) do produto do país. Mesmo assim, os percentuais de pobreza rondavam os 35% em 2008. Segundo o governo, a estimativa é fechar 2010 com menos de 30% e chegar a 2015 em 25%.
As ilhas também são um destino turístico conceituado na África. O arquipélago é famoso pelas praias de mar azul claro e areais brancas. “O turismo é um setor consolidado. E agora partimos para o chamado turismo médico, no qual os visitantes aproveitam para fazer uso de nosso parque clínico”, afirmou o ministro de Negócios Estrangeiros.
Com uma área agricultável naturalmente limitada, Maurício busca terras fora do próprio território para plantar. No ano passado, passou a administrar mais de 20 mil hectares em Moçambique para plantar arroz, em parceira com uma empresa de Cingapura. A ideia, explicou o ministro, é buscar “sinergia para produzir o que comemos e comer o que produzimos”. Híbridos de arroz também devem ser desenvolvidos para fazer negócios no mercado global.
O país já foi o terceiro maior produtor de açúcar do mundo. Mas, ainda hoje, mantem forte participação no setor. Mais de 90% das terras cultivadas nas ilhas são ocupadas pela cana-de-açúcar. “O Brasil veio estudar o uso de energias alternativas aqui, logo depois da 2ª Grande Guerra”, lembrou o ministro. “Agora, somos nós que devemos aprender mais com o Brasil, uma força nessa campo”, afirmando que a destinação da cana para produção de biodiesel também pode crescer. “Precisamos ver como podemos juntar forças para desenvolver esse potencial que há no Continente Africano”.
A abertura de uma embaixada no Brasil também ajudaria outro projeto das ilhas: fazer parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a CPLP. Desde 2006, Ilhas Maurício já são observadores associados, como Guiné Equatorial e Senegal. “Estamos estudando como promover a língua portuguesa e encorajar o aprendizado da cultura lusófona.”
Com 70% da população de origem indiana, o inglês é um dos idiomas oficiais. Outro é o francês. A língua de comunicação habitual é o marisyen, uma língua crioula. Muitos dos imigrantes indianos e chineses ainda falam os idiomas de origem. Mas as novelas brasileiras fazem muito sucesso na televisão de Maurício. Todas traduzidas para o francês.