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Imprime meu filho!

Eis que ecoa no topo do monte Olimpo financeiro da famigerada Wall Street, uma voz que ressoa pelos quatro cantos do globo, afetando todos os mercados de capitais do mundo. Essa voz dizia o seguinte: “imprime meu filho!”

Pois é, o que mexeu com os mercados nesta semana foi uma impressora, vejam só! Numa semana mais curta, ao menos para nós tupiniquins, vimos o Ibovespa acumulando alta.

A semana começou preguiçosa, com a perspectiva de feriadão, uma vez que o feriado do dia dos finados acabou caindo na terça-feira. Pára um pouquinho, descansa um pouquinho, e voltamos na quarta-feira cheios de expectativas e perto da barreira dos 72 mil pontos. Eis então que o anúncio tão esperado é feito: imprime meu filho!! Mas você deve estar perguntado: como assim? Vejamos então…

O FOMC anunciou a manutenção da sua taxa básica de juros entre zero e 0,25. Bom até aí nada de novo. No entanto, o que o mercado queria ouvir era a perspectiva de liquidez que este poderia dar ao mercado.

Entende-se que o mercado é um campo fértil. Fértil em investimentos, perspectivas, projeções de investimentos, especulções, etc. Pois bem, esse campo fértil, como qualquer outro precisa ser regado! E o melhor fertilizante para este campo é a liquidez. Assim como o agricultor não gosta de seca, o mercado também não!

O FOMC anunciou expansão dos incentivos para a economia americana através da extensão do programa de compras de ativos em US$ 600 bilhões, ficando acima das expectativas do mercado que estavam em torno de US$ 500 bilhões. Essa compra se dará em doses homeopáticas, em torno de US$ 75 bilhões por mês até junho de 2011, podendo variar de acordo com a forma que o mercado de trabalho e a atividade dos Estados Unidos responderem aos incentivos.

Em outras palavras o que o governo norte americano decidiu fazer foi trocar ativos de liquidez duvidosa e restrita dos bancos, por dinheiro. Mas eles fizeram isso porque são “bonzinhos” com seus bancos? Não! Na verdade os bancos são peça-chave no sistema financeiro, eles são um dos veículos de financiamento e expansão de crédito. Sendo assim, o que o governo fez foi indicar que trará liquidez aos mercados, e que dinheiro não vai faltar daqui para frente. Cabe aos bancos agora emprestarem e colocarem todo esse dinheiro no mercado, na economia real, para que o consumismo volta à tona, e os empregos voltem a ser gerados.

Mas dinheiro normalmente é um bem escasso, ao menos para nós mortais que trabalhamos e suamos para obtê-lo. Já para os governos as coisas são um pouco diferentes, é uma simples questão de uma ordem: imprime meu filho! Se mesmo com juros na casa do 0%, com os gastos do governo atingindo níveis recordes, e com algumas reduções de impostos a economia segue andando a passos lentos, o governo olhou para a mesa de instrumentos de incentivo a economia e resolveu apelar para o mais tacanho de todos, a boa e velha impressora. Imprime meu filho!

Obviamente que para toda ação existeu uma reação. Se por um lado ligar a impressora parece ser uma saída fácil, existe uma série de implicações macroeconômicas tais como já experimentamos outrora em alguns planos econômicos fracassados. Não estou dizendo que essa medida irá fracassar, isso só o tempo dirá. No entanto, é claro que se o dinheiro é um bem e se há a expansão da oferta desse bem, pela boa e velha lei da demanda e oferta, o preço desse bem arbitrariamente abundante, deverá cair.

O preço do dinheiro nada mais é do que os juros cobrados para se ter acesso a ele. Com os juros em zero e essa enxurrada de dólar no mercado, a tendência normal é a desvalorização do dólar, ou seja, ele perder valor em relação as demais moedas, algo que também vimos essa semana.

Com isso ocorrendo os produtos americanos ficam mais baratos externamente existindo assim um incentivo a exportação desses, dinamizando assim sua economia.

Bom, mas maior competição com produtos americanos também mexe com as demais economias do globo, por isso hoje se fala tanto na tal “guerra cambial”, ou seja, as reações dos diferentes governos a desvalorização do dólar.

Enfim, enquanto a impressora estiver ligada a todo o vapor e os juros estiverem em patamares tão baixos, essa lógica segue a dominar o mercado. E se isso continuar o nosso campo fértil segue sendo regado e a bolsa reflete positivamente isso. Então Imprime meu filho!

William Castro Alves
Analista da XP Investimentos

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