Indústria teme queda de exportações e concorrência
As indústrias brasileiras estão preocupadas tanto com a queda das exportações quanto com a concorrência de produtos importados no mercado doméstico.
Os temores foram identificados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na Sondagem Especial sobre Comércio Exterior, realizada em abril, com 1.307 empresas de todos os setores.
“A crise levou ao estreitamento do comércio mundial. Esse é o duplo impacto: Vamos perder mercado tanto externo quanto doméstico com a situação de crise e as condições de competitividade dos produtos brasileiros”, avaliou o gerente executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
“Isso dificultará a retomada da atividade”, avaliou. Segundo previsão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2009, haverá uma retração de 5% na produção industrial em relação ao ano passado e uma queda de 1% no Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país.
O estudo da CNI mostra que 66% das empresas exportadoras brasileiras foram afetadas pela crise econômica mundial – para 84% delas, o principal impacto foi a queda na demanda. O encarecimento do crédito foi apontado como grande impacto da crise por 7% das indústrias, enquanto 6% se queixaram da valorização do real diante do dólar, sendo que a cotação estava em torno de R$ 2,30 no período pesquisado (contra R$ 2,02 hoje).
Para Castelo Branco, o governo deveria estar alerta para evitar uma apreciação ainda maior do câmbio. “Havia expectativa de que a mudança de patamar do câmbio levaria a melhores condições de competitividade dos produtos brasileiros e que seria aproveitada durante a fase de recuperação da economia mundial. Isso não está se mostrando verdadeiro, a valorização afeta negativamente e é motivo de grande preocupação”, afirmou o economista. Ele sugere queda na taxa de juros e maior atividade do Banco Central na compra de moeda estrangeira, além de medidas de natureza fiscal e tributária.
Independentemente da questão cambial, a sondagem da CNI indica que 48% das empresas exportadoras esperam redução da participação das vendas externas no faturamento bruto de 2009 Para tentar driblar os efeitos da queda na demanda internacional, 60% das empresas afetadas pretendem adotar a estratégia de busca de novos mercados. Segundo Castelo Branco, a recente missão empresarial que acompanhou visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Turquia é um exemplo disso.
Para ele, outra a frente de atuação para minimizar os efeitos da crise internacional é reduzir custos e aumentar produtividade – é isso o que pretendem fazer 51% das empresas afetadas. Outras estratégias são exportação de novos produtos, investimento na qualidade e no design dos produtos, redução da margem de lucro e investimentos em marketing.
Quando à competição no mercado interno, 53% das indústrias pesquisadas enfrentam concorrência de produtos importados e 33% delas acreditam no acirramento da competição. No caso de grandes empresas, o percentual sobe para 70%, e os setores mais vulneráveis à concorrência dos importados são equipamentos hospitalares e de precisão (95%), farmacêuticos (82%) e material elétrico e de comunicação (81%).
A expectativa de invasão de importados, segundo Castelo Branco, deve-se ao ambiente internacional de maior oferta de produtos a partir da retração dos mercados dos países avançados. “Isso, a despeito da desvalorização em relação a 2008. Possivelmente, no câmbio atual, a expectativa seria de uma penetração até mais intensa”, ressaltou.