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Intercâmbio literário entre países africanos é pequeno

Convidada a participar do seminário A Literatura Africana Contemporânea, que integra a programação da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília, a poetisa e historiadora angolana Ana Paula Tavares cobrou hoje (16) que governos e instituições privadas assumam um papel mais ativo na divulgação da literatura africana, sobretudo a produzida em países de língua portuguesa.

Ana Paula admitiu que, devido à má divulgação da produção contemporânea, os próprios escritores africanos têm dificuldades para falar sobre o que é feito em outros países além dos seus. Segundo a poetisa, a falta de conhecimento de outras “línguas imperialistas” – conforme ela se refere aos idiomas impostos aos povos africanos a partir do século dezenove, quando o continente foi dividido entre as potências europeias – e questões de ordem econômica impedem que mais autores sejam traduzidos, o que dificulta a troca de informações.

“Há barreiras de todo o tipo que dificultam a divulgação da produção literária dos vários países africanos não só para outros continentes, mas entre nós mesmos, africanos. Há barreiras linguísticas, problemas ligados à atividade editorial e ao dinheiro, ao sistema capitalista”, afirmou Ana Paula.

Ela ainda cobrou ações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para estimular a circulação de livros de autores do idioma entre os países que compõem o grupo.

“Em Angola, por exemplo, não conhecemos a produção de Moçambique, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe e dos demais. E o mesmo acontece com eles. Conhecemos os grandes nomes, mas não os mais jovens e os movimentos literários que estão surgindo”, comentou a poetisa.

Segundo ela, durante muito tempo, os escritores angolanos foram mais influenciados por autores brasileiros do que pelos de países vizinhos.

Apesar das ressalvas, Ana Paula comemorou por autores angolanos – como, por exemplo, José Eduardo Agualusa, Pepetela e Mendes de Carvalho – terem conquistado mais reconhecimento no exterior, nos últimos anos, principalmente no Brasil.

A poetisa afirmou que são os poetas angolanos que, nas últimas três décadas, têm sido mais ousados na experimentação de novas possibilidades de temáticas e linguísticas. Segundo ela, essa experimentação está intrinsecamente ligada ao processo de independência do país, proclamada em 1975.

“Há um antes e um depois dos anos 80 do século passado para a literatura angolana. Essa ruptura é mais clara na poesia, nas escolhas feitas pelos poetas, do que nos romances. Embora haja muitos bons novos romancistas, os que continuaram a surpreender após esse período são os nomes já consagrados desde a década de 1960, ainda durante o período colonial”, disse Ana Paula.

Autora de Ritos de Passagem (1985), O Lago da Lua (1999) e Dizes-me Coisas Amargas Como os Frutos (2001), Ana Paula nasceu em 1952, na província de Huila, “uma região pastoreira”. Durante o seminário, em que dividiu a mesa com o cabo-verdiano Germano Almeida, contou ter sido criada por uma madrinha branca que a obrigava a só falar em português, por não considerar educado que “uma menina que foi a escola e usava garfo e faca” falasse qualquer um dos dialetos locais.

“Ainda hoje ouço aquelas vozes maravilhosas das mulheres falando numa língua que eu não entendia, mas que até hoje busco resgatar na minha poesia. Hoje, tento fugir dos estereótipos e falar das mulheres angolanas reais. Se possível, trazendo suas vozes para minha obra, porque desde sempre eu percebi que era diferente da grande maioria das mulheres angolanas pelo simples fato de ter conseguido ir à escola”.

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