Jornal do Brasil encerra versão impressa e se mantém na Web
Após 119 anos de circulação, o Jornal do Brasil encerra um ciclo no dia 1º de setembro, quando deixa de circular na versão em papel. Considerado uma referência da imprensa nacional e um dos mais influentes veículos do país entre o período da ditadura militar e o início da redemocratização, o JB não resistiu a dívidas e à queda na tiragem mesmo em um ano em que a circulação dos jornais teve alta de 1,5% nos primeiros cinco meses de 2010.
Nesta década, o mercado carioca ganhou os jornais Meia Hora, da Editora Dia SA, e Expresso, da Infoglobo, dois veículos que disputam o segmento popular no Rio, e o emergente Destak, de distribuição gratuita.
A decisão de interromper a versão impressa será comunicada aos leitores do jornal em anúncio publicado na edição de hoje, confirmou ontem a Docas Investimentos SA, holding que integra os negócios do polêmico empresário Nelson Tanure. O jornal carioca começou a enfrentar problemas financeiros a partir da década de 1980 e hoje teria dívidas de R$ 100 milhões, enquanto sua tiragem cai. O jornal econômico Gazeta Mercantil, também controlado por Tanure, deixou de circular em maio do ano passado por dificuldades semelhantes.
ANJ lamenta, mas considera a situação um caso isolado
O diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, avalia que o fim do Jornal do Brasil é um caso isolado em um momento de aumento da circulação de diários no país.
– Lamentamos pelo passado do Jornal do Brasil como uma referência no jornalismo brasileiro e uma grande escola de jornalistas. Mas isso ocorreu por equívocos empresariais. A circulação dos jornais no Brasil vem crescendo, à exceção do ano passado, devido à crise, mas em 2010 vai voltar a aumentar. No Brasil, há muito espaço para a leitura dos jornais crescer – diz Pedreira.
Dados da ANJ mostram que, de 2004 a 2008, a circulação média diária dos jornais cresceu 31%. Ano passado, no entanto, a retração foi de 3,46%. Os números do Instituto Verificador de Circulação (IVC) apontam uma recuperação este ano.
O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, lamentou o fim do JB no papel.
– Todos os amantes do jornalismo receberam essa informação com muita tristeza porque o JB, nas últimas cinco décadas, foi um ícone da imprensa brasileira. Foram cometidos vários erros que conduziram ao jornal à perda de prestígio – disse.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Suzana Blass, diz que a prioridade agora é saber quantos profissionais poderão ser aproveitados na versão online e a garantia dos direitos de quem for dispensado. Segundo a entidade, o JB soma cerca de 160 funcionários, sendo 60 jornalistas.
Avanço e queda |
– O JB foi fundado em abril de 1891 por Rodolfo Epifânio de Sousa Dantas, com intenção de defender o regime monárquico deposto. |
– Em 1893, o presidente Floriano Peixoto mandou fechar o jornal, que voltou a circular em 15 de novembro de 1894, com ideias republicanas. |
– Na década de 1950, passou por uma reforma gráfica que revolucionou o design de jornais no Brasil. |
– Apoiou o golpe militar de 1964. |
– Uma das edições históricas foi em 14 de dezembro de 1968, após o AI-5. Com a redação ocupada por censores, trouxe a chamada “Ontem foi o dia dos cegos”. No boletim do tempo, avisava que o ar estava irrespirável. |
– Os anos 1970 marcaram o início do auge do JB. Ao mesmo tempo, o período marcou o início dos problemas financeiros da empresa. |
– Em 1983, morre a condessa Pereira Carneiro. Manuel Francisco do Nascimento Brito assume a presidência. |
– Apoiou as Diretas Já em 1984. |
– Em 1995, foi o primeiro jornal brasileiro a ter versão na internet. |
– A marca foi arrendada pelo empresário baiano Nelson Tanure em 2001. |