Les Cirques d' Enfer

(Em contraponto ao Cirque Du Soleil)

Onde se reúnam duas ou mais pessoas é campo fértil para se erguerem as lonas dos “circos do inferno”: nas empresas, nas repartições públicas, nos partidos políticos, nas passarelas, nas academias de letras, nos liceus literários, enfim, onde haja o solo acolhedor às vaidades, aos ciúmes, às vinditas e às vicissitudes do caráter humano.

Em contraste com a grandiosidade do que poderia ser o espetáculo, por detrás das cortinas que encobrem os “bastidores” do “picadeiro” tudo é previamente orquestrado: o “domador” venda os olhos do incauto “palhaço” e o trancafia, apenas ele e as feras, no interior da jaula. O “mestre de cerimônias” embriaga o “atirador de facas” momentos antes do número do artista. O “trapezista-base” serra a haste metálica onde, após o voo precedido do tríplice mortal, o “trapezista-solo” crê deva se lançar e alcançar a plataforma. Resulta, pois, estatelado sobre a serragem, alquebrado, a dor do insucesso percorrendo-lhe as entranhas e, do alto, a voz do êmulo a dizer, No “espetáculo” de amanhã a barra estará consertada. Agora não adianta chorar o leite derramado! Não bastasse isso tudo, a “corista delirante”, sardônica e saltitante, ironiza, Pensavas tu ser lagartixa a te grudares na primeira parede que encontrasses?

Os “circos do inferno” – semelhante ao antigo Coliseu – segue a máxima do panis et circenses: enquanto houver pão e circo tudo correrá bem, até o momento em que o “palhaço”, o “atirador de facas” e o “trapezista-solo” apanhem os de seus e migrem para outros “circos”, menos trágicos, quem sabe?.

O pior é que, para o lugar destes, para inveja do “domador”, para as incertezas do “mestre de cerimônias”, para o deboche da despeitada “corista delirante” e para os ciúmes do “trapezista-base”, sempre existirão outros “palhaços”, “atiradores de facas” e “trapezistas-solo” que acreditam e os ouve falar, falar, falar, falar, falar e falar… Affff!
E tudo há de repetir.

*Les cirques Du enfer – os circos do inferno

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