Manuel Bandeira não viu tudo – Sergio Agra

Sergio Agra

Um dos poemas mais célebres da extensa obra poética de Manuel Bandeira é sem sombra de dúvidas “Vou-me Embora pra Pasárgada”, publicado no livro “Libertinagem”, em 1930.  Este poema apresenta uma cidade idealizada como solução para os problemas. Pasárgada significa, portanto, uma espécie de refúgio, um local maravilhoso – que só existe na imaginação do poeta – onde só há espaço para os prazeres da vida. Seu tema principal é a vontade do personagem escapar para uma outra realidade. No poema “Vou-me Embora pra Pasárgada” a fuga é no sentido da aventura, da independência, rumo à diversão sem limites e sem consequências.

Se vivo estivesse, Bandeira, sem fugir do mote da poesia original, certamente cantaria sua Pasárgada como ora, com a devida licença do Imortal Acadêmico, o faço nesta atualíssima paródia:

Vou-me embora de Brasília.
Jamais fui amigo do Sarney.
Irei mesmo para Capão,
sorver o amargo chimarrão,
escrever como sempre quis
nas páginas que escolherei.
Vou-me embora de Brasília.

Vou-me embora de Brasília.
Lá honesto jamais será feliz.
A existência é uma fartura
pra quem sabe como se “fatura”
e se sair impunemente.
Martha Botox Suplicy,
Sexóloga e curta de mente,
buscou ser a cavalgadura
do “relaxa e goza” uma aderente.

Denunciei o “descaminho”

cometido por Albuquerque e por Soeiro,

um ministro, o outro sargento

(este useiro e vezeiro),

“mulas” de luxo sem qualquer talento.

Afinal por que declarar

ao TCU e à Policia Federal

se as joias – “herança maldita! –

se tratavam de “presente pessoal”

do ditador da Arábia Saudita

à inocente Michelle.

Documentei aquele tesouro
e acreditando estar vingado,
deitei-me às margens do Paranoá,
para escutar de Rosane Malta
o que fora seu passado
nos tempos em que do Collor de Mello
fora primeira dama e cabo de martelo.

Vou-me embora de Brasília.
Em Brasília tem de tudo,
quando se trata de corrupção,
e a certeza de um processo seguro
com sentença de absolvição,
concedendo a volta pro “serralho”
do Zé Dirceu e del grande capo.
Tem tapinhas nas costas,
tem prostitutas de alto custo
pra agradar o parlamentar.

Lewandowski, despudorado,
vejam só que finório,
amparou como de direito
regalias a filho de juiz,
até mesmo se bastardo,
do berço até o velório.

Quando me quedei mais triste,
mas triste de não ter jeito,
à noite me veio ao peito
esta vontade de me mandar,
cruzando as Minas Gerais.

Tornei-me inimigo do ora “rei”,
da “anta” defenestrada

e dos corruptos desta bancada.

Vou-me embora de Brasília.

Para onde? Já nem sei!

Irrevogável a minha melancolia,

se nem “Porto Alegre é demais”…

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