Massacre do Carandiru foi acerto de contas entre presos, diz advogado
Os policiais serão julgados pela morte de oito presos que ocupavam o quarto pavimento (ou terceiro andar) da antiga Casa de Detenção do Carandiru. O primeiro procedimento será o sorteio de sete pessoas que vão compor o Conselho de Sentença.
Vendramini disse que chegou à conclusão, após ler os 71 volumes do processo, de que um preso que estava no Pavilhão 9, conhecido como Benedito, delatou aos agentes penitenciários que armas estariam sendo enviadas para outro presídio, em Guarulhos. “Houve uma caguetagem para os agentes e essa rebelião foi debelada. Foi briga de quadrilhas, foi acerto de contas entre os presos”, declarou. Essa versão é diferente da defendida anteriormente, de que a briga generalizada entre os presos teria começado após uma discussão num jogo de futebol.
Segundo Vendramini, entre os acusados, três são coronéis da Polícia Militar e um deles ainda está na ativa. O advogado informou que todos os policiais vão ser interrogados. Entre as testemunhas chamadas por ele estão o ex-secretário de Segurança Pública à época, um desembargador e três agentes penitenciários. Vendramini espera que o julgamento termine antes de sexta-feira (21).
O advogado acredita que os réus serão absolvidos, pois não podem ser responsabilizados pela autoria das mortes. Segundo ele, antes mesmo da Polícia Militar entrar já havia aproximadamente 20 mortos no pavimento. “Os policiais entraram e fizeram disparo de bala de fogo, mas não dispararam em direção a quem quer que seja. Os presos atiravam neles e eles revidavam em direção aos clarões, mas nem eles [policiais] sabem se acertaram alguém”, disse.
O Massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante uma operação policial destinada a reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do presídio.
Por envolver grande número de réus e de vítimas, o julgamento do Massacre do Carandiru foi desmembrado em quatro etapas, de acordo com o que aconteceu em cada um dos quatro andares do Pavilhão 9 da Casa de Detenção.
Na primeira etapa do julgamento, em abril do ano passado, 23 policiais foram condenados a 156 anos de reclusão cada um pela morte de 13 detentos. Na segunda etapa, em agosto, 25 policiais foram condenados a 624 anos de reclusão cada um pela morte de 52 detentos que ocupavam o terceiro pavimento do Pavilhão 9.