Newton e a menina reprimida

Muitos acreditam que a famosa terceira lei de Newton (princípio da ação e reação), apesar de ter sido formatada como um princípio físico, se aplica às mais diversas situações da vida. Segundo Sir Isaac Newton, “a toda ação corresponde sempre uma reação oposta e de igual intensidade”.

De fato, até quando trazemos para as situações sempre embaraçosas do dia-dia, essa realidade parece transcender a física. Apesar de não ser uma regra, quando buzinam para nós no trânsito, nossa reação por diversas vezes é buzinar e tecer certos “elogios” à outra pessoa.  Ou então, quando alguém desrespeita uma fila no banco por exemplo, nos sentimos no direito de, além de chamar sua atenção, faltar ao respeito e arrumar uma verdadeira quizumba dentro do banco. E, quando a namorada descobre que seu namorado a traiu, então, qual é a reação de muitas? Trair óbvio. Afinal, vento que venta cá venta lá, não é mesmo? Enfim, para toda ação existe sim uma reação.

Mas muitas vezes essa reação acaba sendo amplificada pelo tamanho e tempo com que tal força anterior era exercida. Como? O que quero dizer com isso? Pense numa jovem que, pela severidade de sua criação, era reprimida, proibida de dar vazão às vontades de sua idade e aos deleites da juventude. Que, durante muito tempo, era proibida de sair com amigos, de usar as roupas que gostaria, de ouvir as músicas que queria. Enfim, pense em uma garota reprimida e que, em um dado momento de sua vida, consegue se libertar da clausura a ela imposta. Qual seria a reação normal? Imagino eu que seria a de viver tudo de uma única vez. Sair, beber, mudar o guarda-roupa, viver e descobrir a vida com sua beleza e riscos. Esperaria de tal jovem uma reação bastante intensa de libertação e mudança brusca. Enfim, essa é apenas minha opinião.

Mudando um pouco de assunto, permita-me fazer uma breve retrospectiva, caro leitor. Aqui nesta coluna, semana retrasada, comentei que começar a investir com a bolsa nos 51 mil pontos era uma boa idéia, parafraseando o célebre jargão publicitário da Caninha 51. Para quem não leu, a ideia é de que a bolsa se encontrava em um patamar realmente barato. Já na semana passada foi comentado que a bolsa é um lugar “Onde os Fracos Não Tem Vez” (numa clara referência ao genial filme dos irmãos Cohen), dado o nível de fortes emoções e de intensas e constantes oscilações que esta apresenta.

Pois bem, hoje respaldado pelo benefício da análise a posteriori, digo que tudo que estava escrito estava perfeitamente correto. Saltamos lá dos 51 mil pontos e encerramos essa semana próximo aos 60 mil pontos. Só nesta semana, o Ibovespa teve valorização de 7,71% e vale a ressalva de que, quando falamos do Ibovespa, falamos de uma média, ou seja, algumas ações tiveram valorizações muito mais expressivas. Pois bem, é isto mesmo, 7,71% nesta semana, provavelmente o mesmo que sua aplicação na poupança deverá render se você tiver a paciência de esperar 52 longas semanas.

Voltando a Newton e à menina reprimida que comentei, essa semana o mercado seguiu a lei newtoniana e seus investidores se comportaram como essa menina, tendo uma forte reação frente a uma ação importante. Isso porque, nessa semana, finalmente a Comunidade Européia tomou atitudes mais concretas no sentido de enfrentar os desafios que sua situação econômica apresentava.

Os líderes da zona do euro, após 10h de negociações, anunciaram um acordo que, de forma bem resumida, estabelece: que os agentes privados (entenda-se bancos) assumirão perdas de 50% nos títulos de dívida da Grécia, além de refinanciarem os outros títulos em condições mais favoráveis aos gregos; será elevado o poder do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) para socorrer países e bancos em dificuldade; foi fechado um acordo para recapitalizar (injetar recursos) nos bancos que tenham necessidade, para que estes não venham a quebrar; e, por último, foi determinado que os países deverão seguir a “regra de ouro”, o que significa manter as contas públicas equilibradas. Essas medidas aparentemente solucionam as dificuldades de curto prazo da Europa. Obviamente que as questões fundamentais de longo prazo, seguem desafiadoras, ou seja, como os países europeus fomentarão o crescimento econômico tendo sérias restrições fiscais, limites para expansão de crédito e com uma situação de financiamento dificultada pelo estoques de suas dívidas? Enfim, deixemos isso para segundo plano, ao menos por hora.

Todas essas medidas soaram como libertação para uma menina reprimida. Os investidores, há muito tempo, têm visto no Brasil uma opção extremamente interessante de investimento.

Mas o receio de uma crise de magnitude catastrófica rondava o seu imaginário impedindo-o de assumir posições de maior risco. O investidor foi às compras, pois o fantasma grego foi novamente preso no armário. Quiçá mandado embora para sempre.  E qual será sua reação a toda essa movimentação dos mercados acionários? Ficar parado esperando 52 semanas para ter um rendimento pífio de 7%?

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