Ninguém é de ferro – Jorge Alberto Vignoli
De que forma eu posso desejar felicidades aos amigos na passagem de ano quando, todo o dia, os Correios deixam na caixa de correspondência um imposto a pagar.
E ai de quem não pague. É impressionante, neste aspecto, a agilidade que o fisco possui para cobrar daquele que, por uma circunstância ou outra, deixa de honrar o imposto.
Basta um vacilo e já em abril estará um Oficial de Justiça batendo à sua porta, dizendo que o prefeito ou o governador – lembrando Machado – quer ir “à burra, com o único fim de fartar os olhos nos rolos de ouro e maços de títulos”.
Eu sei que o pagamento do imposto é uma transferência compulsória de dinheiro ao governo, sem o qual nossos governantes não podem nos devolver em serviços.
Acontece, entretanto, que bem na frente da minha casa – já se vão mais de dois meses – há um buraco no meio da rua. O asfalto se foi. E apareceram por baixo as pedras do antigo calçamento. E os carros que passam e a chuva que cai sobre o buraco vão tratando de aumentar seu diâmetro.
E não adianta reclamar, embora esteja rigorosamente em dia com a Fazenda, pelo singelo fato que não existe para quem bradar. Nós, os munícipes, estamos abandonados à sorte. Experimente telefonar para a SMOV. Impossível. Não atende ou soa nos nossos ouvidos aquele irritante som de ocupado.
Tente, então, fazer um protocolo na Prefeitura de Porto Alegre. Além da espera numa fila quase interminável, você passará ao menos por cinco burocratas até receber o último carimbo. A partir deste momento a sorte está lançada, e esperar sentado pela resposta.
Essa rotina não muda. Entra governo, sai governo, e continua a mesma lentidão, o mesmo vilipêndio com o vassalo, a igual displicência de quem, por dever, exerce o múnus público.
Já perceberam que o funcionário público preocupa-se muito mais com as bolachinhas do lanche e descobrir, pelos escaninhos das leis, alguma forma de alcançar algum “larjan” atrasado do que, com rapidez, resolver uma situação?
Pago, enfim, os impostos e me toma um sensação de que estou livre, e que só no final do ano que vem o pesadelo se repetirá. Engano. Logo em março vem o imposto de renda. Relaxo. Faltam dois meses.
Melhor esquecer e pensar em comer lentamente uma fatia de peru, presunto e sorver muito champanhe gelado nestes dias de festas na casa de algum amigo, porque, pensando bem, ninguém é de ferro!
Jorge Alberto Vignoli