O Bar do Oswaldo
O Bar do Oswaldo estava ali, na esquina da João Brasil, com a Voluntários da Pátria, desde a década de 1950.
Por ali passaram gerações de intelectuais e de boemios que o tempo se encarregou de fazê-los quase esquecidos.
Comecei a frequentar o bar do Oswaldo, a partir do ano de 1965, pois nesta época eu já estava empregado , no Banco da Provincia e já podia pagar o meu cigarro, a minha cerveja e o meu lanche de fim de tarde que se constituia, obrigatoriamente, de salame italiano e queijo colonial.
Este lanche era chamado picandinho mixto. O picadinho completo que era, pedido pelos de mais posses, era o mesmo picadinho de queijo e salame, ao qual era adicionado pepinos em conservas!
Ali, eu ainda guri, ficava fascinado vendo os mais velhos jogar dominó e discutir , politica, filosofia, história, literatura e tudo o mais que a inteligência rosariense era capaz de produzir e que o uisque e o samba( cachaça com coca-cola e gêlo) se encarregavam de liberar, para nossa alegria e para nossa cultura.
Naquelas mesas, sentaram, o Ney Freitas, funcionário Banco do Brasil e professor de matemática, o Ione Freitas, livre pensador e mecanico sem similar, o João Pacheco, que morreu cedo e que falava de Sartre, de Marx e quando se passava no uisque, declamava Fernando Pessoa.
Por ali passaram o José Antonio Trindade, o Nilton Azevedo, O Harry Izaguirri, O Caco Canestrini, o Rubem Fialho, o Delíbio Fontoura Lopes, o Paulo Roberto Carbonell, O Luiz Carlos Carbonell, o João Pacheco da Cunha, o Soter Arigony, O Jari Acosta, o Mario Souza, O Marzinho, o Odilon Santiago, o Selmar. O alemão Valmor que tocava gaita e que um dia me disse que o Sivuca era o maior gaiteiro do Brasil. O Joãzinho Escobar que foi o primeiro instrutor de motorista da cidade.
Naquelas mesas sentou o médico Werneldo Ervino Vebber, caridiologista de raro brilhantismo que, quando bebia ,ficava louco.
Por ali, fumando um cigarro de palha passou o seu Adamastor Pinheiro, o Carlinhos Pinheiro, O Otacilio Pacheco de Campos, O Roberto, o Juca e o Carlos Fonseca, o Gilson Trindade, mais conhecido por Jundiá que trabalhou no banco da Provincia e depois no Banco do Brasil.
Frequentava também o bar, mas raramente o famoso Português que foi um grande jogador de futebol do Atlético Swift Internacional e que quando chegava, o assunto ficava animado com todo o mundo querendo saber o que ele achava do time do Gremio, do Inter e da Seleção do Brasil.
O João Barbeiro, o Bijico, o seu Eurico Arigony e Dr. José Arigony, eram presenças diárias no local.
E em um canto, perto do caixa e do lugar onde o Oswaldo ficava, se encontravam,sempre, falando de negócios, aos fins de tarde, o seu Catarino Severo, o seu Lafar Azevedo, o seu Joca Fialho, o seu Ignacio Izaguirri, o seu Armando Adolfo Caetano e tantos outros personagens que povoaram a minha juventude e que hoje, à distancia, representam um foto sem retoques do tipo humano e social, dos autenticos gaúchos que não desfilavam no vinte de setembro pois que, para eles, todo o dia era dia de gaúcho.
O bar do Oswaldo foi um marco em Rosário do Sul.
Para mim e para meu irmãos Enio e Magno, então, era um lugar sagrado.
Quando eu saia do Curso de Contabilidade que frequentava no Grupo Escolar Marçal Pacheco, não deixava de passar por ali , para tomar uma cerveja, a mais gelada e que era servida pelo Pata Choca, pelo Rosa novo ou pelo Rosa velho.
Na década de setenta, já em Porto Alegre, levava meus amigos, para visitar Rosário do Sul e para conhecerem o Bar do Oswaldo.
No bar do Oswaldo recebiamos a nossa iniciação nas artes de discutir, futebol, religião e política e, nos tempos de exceção não raras vezes, muitos de nós tivemos que sair pelo fundos,porque a patrulha do exercito, chegava, pela frente, denunciadas que eram as nossas conversas, por expectadores com outras intenções que não eram as de tomar uma cerveja gelada ou comer um picadinho de queijo com salame italiano….!
O bar do Oswaldo foi um marco, em Rosário do Sul.
Com a morte do Oswaldo e com a morte da maioria dos seus frequentadores, o negócio foi se tornando obsoleto, acabando por fechar suas portas.
O prédio, abrigava, há algum tempo atrás um fruteira, mas quando o vi, pela última vez, guardava,ainda, um ar de boemia.
E se nos dirigissemos mais para dentro de nossa memorória e de nosso coração poderiamos ver os frequentadores sentados, em cadeiras ao redor das mesas, dentro do bar e na calçada e podia-se ouvir,um clima de discussões sobre politica , futebol ou alguém tomando a cerveja mais gelada da fronteira, dizer um poema, de Fernando Pessoa ou de Jaime Caetano braum.
Com muita sorte poderiamos ouvir sons vindos do passado trazendo trechos de Marx e Adams Schimit, de Leonel Brizola e de Colberi do Couto e Silva, citados por seu admiradores, ou talvez de algum canto alguma voz solitária, dizendo : Es preciso endurecer-se, pero sin perder la sensibilidad, jámas…!!!
O Bar do Oswaldo era o que hoje se chama de um espaço cultural, só que foi o mais democrático e eclético que eu conheci.
Sem similar na história dos meus bares…Quanta saudade ao recordá-lo agora !