Colunistas

O casamento real

Acho que todo o planeta assistiu ao casamento real. As imagens  e  cenas grandiosas da televisão encantaram a todos. A mim transportaram-me  para  minha juventude em Rosário do Sul e lembraram-me de um personagem exótico e querido de toda a cidade: ABILIO LOUCO!!!

O Abílio ficava sentado ali na frente do clube comercial  com uma varinha, girando sobre si mesma, movida  pela extraordinária sintonia fina dos dedos polegar e médio de sua mão direita. Quando a gente passava,  ele dizia: Moço….me dá um cigarro…, moço! Enquanto a gente acendia o cigarro para ele, recebia-se um convite, de maneira pausada e com palavras corretamente pronunciadas:

-“Moço…. Vou te convidar para o meu casamento com a  Maria Macedo, logo no inicio de maio. Peço que observes que o traje é rigorosamente de gala, pois meus convidados não poderão fazer feio ante os convidados da  noiva que virão  de Veneza, de Roma, da Inglaterra, da Alemanha, da França e do Rio de Janeiro, da China, do Japão e do Uruguai.Da Argentina ela não convidou ninguém! 

Os convidados de Veneza, virão pelo Rio Santa Maria em Gôndolas gigantes, os da Inglaterra  virão de trem minuano, acompanhado por um trem de carga que trará os  guardas, as carruagens   e os cavalos da rainha. Virão junto com os convidados da Alemanha e de Paris. Os de Roma virão  de carros  especiais e a guarda suíça virá acompanhando-os. O Papa mandará um emissário chefiando a delegação. 

Os  do Uruguai, virão de Vapor na parte navegável do rio Ibicuí acabando por entrar no Rio Santa Maria e chegando a Rosário. Os da China e do Japão eu não sei como virão mas virão, com certeza. Os meus convidados são todos aqui de nossa terra, o Juiz de Direito, O prefeito, os médicos Dr. Idalino e Dr. Antunes, vou convidar também o Dr. Mario Vasconcellos a quem eu preso muito.

Não vou convidar ninguém de São Gabriel, pois se fizesse isto teria que convidar também, o pessoal de Cacequi, Dom Pedrito e  do Alegrete, com quem não tenho relações. No dia do casamento a Maria Macedo estará com um vestido branco, com uma grande cauda  e com sapatos de verniz. Um buquê de flores naturais estará em suas mãos e no cabelo, do lado direito, uma flor de pitangueira aumentará a beleza de seu rosto.

Eu estarei vestindo um smoking preto, com uma camisa branca de seda, de gola alta. Sobre o colarinho, engomado, colocarei uma gravata borboleta de cor vermelha. Os meus sapatos serão de Verniz, pretos. Estaremos lindos.

O casamento será na Igreja Matriz e  o Padre Antonio, autorizado pelo Papa,  será o quem nos casará. Chegaremos  numa carruagem Inglesa  a qual estará sendo puxada por uma  parelha de cavalos brancos, com arreios de ouro.

O Cocheiro estará vestido de branco da cabeça aos pés. Antes de chegarmos a Igreja, o cortejo de carruagens  sairá  do Clube Comercial  e se dirigirá ao Monumento da Santinha, ali atrás do Plácido de Castro, onde faremos uma parada. Após, retornará pela João Brasil e chegando no Edifício do Banco do Comércio dobrará a esquerda passando pelo Banco do Brasil e Banco da Província para, finalmente, atravessar  praça e dirigir-se a Igreja Matriz. Após o casamento faremos uma recepção nos gramados do Golfe Clube onde, em mesas  ao livre e iluminadas pela lua cheia de maio, estarão sentados os convidados.

O jantar terá faisões ao molho de ortelã, patos  à califórnia, regados a Champanha e vinho branco e tinto vindos das reserva especiais do Papa e da Rainha da Inglaterra.A sobremesa será sorvete de abacaxi,do Marchesan, coberto com calda e doce de ambrosia. Ao longe, para não atrapalhar as conversas, estará tocando a  Orquestra Filarmônica de Paris….”

Com o cigarro quase no fim a narrativa calma e pausada acabava. O Abílio levava o olhar para um ponto  fixo, no espaço, e dava uma ultima tragada. A varinha na sua mão direita passava a girar mais rápido e um silêncio especial se estabelecia entre ele e ouvinte. Quase cinqüenta  anos se passaram e  ainda me encanto com esta narrativa. Tenho certeza que os cabeças brancas de hoje que conheceram o Abílio e ouviram esta história tem o mesmo sentimento que o meu.

E diante do luxo, da pompa, da mídia que produziu o casamento real de abril de 2011, fico pensando se terá mais brilho e mais encanto que o casamento do  Abilio com a Maria Macedo que, embora, nunca tenha acontecido foi o mais belo fruto da imaginação e da criatividade de uma mente que, talvez, tivesse excesso de  sonhos e de amor.. Para mim o casamento do Abílio e da Maria Macedo, ao lembrá-lo com saudosa emoção, excede em todos os aspectos de luxo, pompa e circunstância, ao casamento real da Inglaterra!

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