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O Choro do Trabalhador

O David Coimbra escreveu, em seu espaço no Zero Hora, que assistiu a um trabalhador da construção civil chorando, sentado em banco de um dos andares do prédio em construção, que dá vista para o banheiro de sua residencia.

E o David, ficou supreso pois, sempre,vê os trabalhadores brincando e ficou tão chocado pelo fato que resolveu falar com o trabalhador, mas quando se aproximou do edifício viu que todos estavam, como de costume, brincando, inclusive o trabalhador que estava chorando.

Pois é, os trabalhadores choram e como choram, David.

Alguns, como você, talvez não tenham se apercebido, mas eles choram……!

Choram, quase todos os dias quando chegam em casa e o filho pede um brinquedo e eles não podem dar, quando a mulher, em profundo silêncio lhe transmite o recado, pelo olhar, que falta arroz, açúcar, farinha, café, leite e carne. Carne, nem precisa falar. Ela sabe que neste mês, não virá.

Choram quando ao final do mês descobrem que o salário, descontado os vales recebidos, vai continuar não podendo comprar o sapato que filha precisa para a primeira comunhão ou o vestido que a mulher olhou em uma loja da Voluntários da Pátria.

Choram quando olham suas mãos calejadas, instrumentos de seus trabalhos e de suas dignidades e vêm que elas estão com alguns dedos quebrados e vazias……!

Choram quando descobrem que sonharam todos os sonhos e que uma parcela muito pequenas destes sonhos foram realizadas. Ou talvez, nenhum…….!

Choram quando descobrem, já no meio da vida, que a sua vida está perto do fim e que os seus filhos terão as mesmas vidas que eles tiveram, até aqui.

Choram quando descobrem que os seus filhos não poderão cursar a universidade, porque o ensino que receberam não os prepara para tal façanha.

Choram quando descobrem que suas filhas terão filhos, sem terem maridos ou que irão se prostituir na mesma rua em que suas mulheres escolheram vestidos que não puderam comprar…..

Choram, por um monte de outras razões, mas choram principalmente porque descobrem que terão um velhice miserável e que sua única alegria será o de encharcar-se de cachaça , esperando o dia de que sejam levados como indigentes para o HPS.

Se continuarem vivos, retornarão para a mesma rotina de misérias e se morrerem serão enterrados em uma cova rasa do Hospital da Santa Casa, como indigentes, sem direito a nome nas suas cruzes.

Pois é David, os trabalhadores, choram. Silencioso choro. Sem que ninguém os veja, ou se os ver, quando se aproximarem para lhe darem o consolo, eles já estarão rindo e brincando, até porque não existe outra saída… !!!

(Este conto foi premiado pela SMC de  Porto Alegre e faz parte do  livro Historias do Trabalho edição 2008. Com ele presto minha modesta homenagem aos verdadeiros trabalhadores do meu País.).

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