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O estelionato mudou. Pra pior!

Ao ler o artigo – sempre sucinto e objetivo – do meu grande amigo e confrade, Erner Machado, A Classe Dominante 2, publicado neste Litoralmania, na terça-feira, 21, pensei em fazer-lhe comentário. No entanto, lembrei-me de uma crônica minha, publicada na seção Artigos, do Jornal Zero Hora – atentem! – na data de 18 de maio de 2007. Os percentuais e os valores referências, por óbvio, eram outros. A canalhice e a desfaçatez da classe política brasileira, estas, sim, encontraram, ainda, níveis mais sórdidos, mais pútridos. Confiram!

Brasileiro: Profissão Esperança

“Chora a nossa pátria mãe gentil,
Choram marias e clarisses no solo do Brasil”.
O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc.

A mídia nacional, na manhã de quarta-feira, nove de maio, brindou aos brasileiros com a informação de que a classe par(A)lamentar – aproveitando-se da atenção do povo à visita de Bento XVI – traiçoeiramente reajustou seus salários em 29%, passando a perceber R$ 16,5 mil, custando, cada gabinete mais de R$ 115 mil, subsidiados, é claro, por nós, os bobos da corte.

Confesso ao meu generoso leitor: fiquei estático, como se recebesse a rajada de um gás paralisante. Não foram tão somente os meus membros que permaneceram por alguns minutos neste estado letárgico. Coração e mente comungaram sob os efeitos daquele impacto. Pouco a pouco a consciência retornou e o ímpeto de gritar, do alto de uma sacada no sexto andar, não para quem passasse nas calçadas, mas para um Brasil inteiro de operários da construção civil, para o boia fria, para toda uma nação de trabalhadores honestos: – “Mas que País é este?”

 Sentimentos amalgamaram-se naquele instante. Impossível descrevê-los. A constatação de, uma vez mais, ter sido meu voto de confiança como eleitor traído, roubado, vilipendiado e enganado pelo reles canetaço ou apertar de um mero botão do painel do plenário, transpôs todos os limites impostos pela minha inteligência emocional.

Quando discutíamos, na seleta roda de amigos ou com os colegas de trabalho, sobre a bandidagem, a corrupção que corre à solta no Congresso Nacional, tínhamos a acuidade de não generalizar. Mas, e agora? A decisão fora por unanimidade!

Desconsiderando o salário mínimo regional que oscila entre R$ 405,95 a R$ 441,86, o assalariado brasileiro percebe, hoje, R$ 380,00. Não tenhamos, pois a insensatez de perguntar-lhe quanto tempo ele terá que trabalhar para somar o equivalente ao faraônico salário de “Suas Excelências”. Mas, você leitor, que está com a calculadora à mão sabe: três anos e oito meses!

Quarenta e quatro meses! Um mil trezentos e vinte dias de um operário, de um trabalhador rural correspondem, pecuniariamente, a trinta dias de um par(A)lamentar brasileiro!!! Não nos esqueçamos do “efeito dominó” que esse reajuste irá ocasionar (assembleias e câmaras municipais).

Em que paradigma podemos colocar os textos de Antônio Maria, Dolores Duran e Paulo Fontes que compuseram, em 1974, o espetáculo teatral Brasileiro, Profissão: Esperança, com Paulo Gracindo e Clara Nunes, dirigidos por Bibi Ferreira?

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