Colunistas

O Governador passa pela Praça Júlio

Da Série “A Praça Júlio de Castilhos e aTurma do Murinho”

Tarde do dia 25 de março de 1963. A molecada que brincava em volta da Praça Júlio foi sacudida pelo espocar de foguetes e grito de exaltação:

— Brizola! Brizola! Brizola!

Rápido a garotada se dirigiu para uma pequena aglomeração. Dez ou doze pessoas circundavam um táxi em movimento. Eram elas, justamente, que proferiam as palavras de celebração. O automóvel rodava devagar; logo a gurizada agregou-se ao grupo, sem entender o significado do gesto daqueles fiéis seguidores do Governador, passando a acompanhá-los, assim, à toa. Aquelas pessoas agrupadas na volta do carro protegiam o governante que recém havia deixado o cargo, transmitido ao sucessor. Durante o trajeto, vez por outra, um acompanhante gritava: “Viva o Brizola!”. A comitiva respondia em coro: “Viva!”.

O carro, em marcha lenta, seguiu pela Rua Mostardeiro, dobrou à esquerda, na altura da Rua Florêncio Ygartua. Ao alcançar a Rua 24 de Outubro (o trecho, nos idos de sessenta, possuía duas mãos), manobrou à direita; passou pelo Prado, atingiu a Olavo Barreto Viana e a Félix da Cunha (também possuíam mão dupla), por elas seguindo, até a Tobias da Silva, onde, após dobrar à direita nesta rua, estacionou em frente à residência do agora ex-governador. O pequeno séquito do portão da casa não passou. Ali permaneceu também a garotada, que logo voltou à Praça Júlio.

Ao entrar em casa naquela tarde, Brizola — sem o saber — iniciava uma etapa de significativas e profundas mudanças na sua vida política. Encaminharia — em boa parte pela sua liderança —, a trágico curso a história brasileira, quando um manto escuro viria a cobrir a liberdade, abafando as mentes e as vozes criadoras.

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