O Idoso e a Quarentena - Dr. Sander Fridman
Fridman em entrevista Globo News.

* Médico, Doutor em Psiquiatria pela UFRJ, professor do IBCMed.

* Para atendimento em Capão da Canoa ligue: 3665-2487, em Osório:  3663-2755.

Em sociedades culturalmente primitivas, imposições de uns sobre outros do que têm que fazer no interesse “coletivo” ou “dele próprio” proliferaram-se em tempos de coronavirus. Determinações de isolamento social (que é a imposição radical do distanciamento social) passaram a ser administradas a todos, em nome do interesse das populações “de alto risco” – principalmente os idosos.

Faltariam respiradores e vagas em UTIs para atender casos graves.

Vídeos circularam na internet com idosos que não se conformaram com o cerceamento de suas liberdades e necessidades de ir e vir: desnecessariamente jogados ao chão, agredidos com cacetetes, algemas –condutas punidas se impostas a criminosos apreendidos em flagrante!

Não é só a Covid que esgota a disponibilidade de UTIs e respiradores: tabagismo, alcoolismo, acidentes de trânsito (estrutura viária), violência urbana, motoboys, pós-operatórios, mal seguimento das recomendações médicas – nas doenças cardíacas, endocrinológicas, pneumológicas, psiquiátricas, etc. Seria razoável criminalizar estes comportamentos em nome do bem comum e também no deles próprios?

Já diziam poetas: “navegar é preciso, viver não é preciso”. “São demais os perigos desta vida”. Buscamos, às vezes, a segurança logo ali, e é logo ali que o perigo nos encontra!

O idoso encerrado e isolado em casa perde a fonte mais barata e efetiva de vitamina D ativada – exposição do máximo de pele ao Sol, por tempo prolongado. Pode perder também sua principal fonte de alegria e razão de viver.

Idosos necessitam 3-5 vezes mais tempo de exposição ao sol para conseguir os mesmos níveis de vitamina D, e sofrem as consequências nefastas da privação do Sol 3-5 vezes mais rápido do que os mais jovens! Na verdade, níveis de vitamina D satisfatórios mostraram enorme impacto nas complicações da Covid-19 (a doença que às vezes é causada pelo Coronavirus).

A vitamina D torna mais eficaz a capacidade de defesa imunológica do corpo (imunidade inata ou inespecífica), limitando a proliferação também do coronavírus no corpo e de uma pessoa para outras. Torna também menos exacerbados os mecanismos auto-imunes, de ataque do corpo a si mesmo, desencadeados pela Covid-19 grave, responsáveis pela temida mortalidade e necessidade de UTI e respiradores.

Por outro, o isolamento forçado, praticamente restrito a idosos, pode ser vivido como exclusão, discriminação, rejeição, abandono, desculpa esfarrapada para não serem visitados! Esta não deve ser uma vivência de todos, mas de muitos! Esta percepção, mesmo que sejam nutricionalmente, fisicamente fortes, provou-se capaz de diminuir muito a resistência a vírus e bactérias, e aumentar muito os sintomas das doenças autoimunes em geral – asma, rinite, reumatismo, etc.

Ou seja, o isolamento dos idosos pode matar duas vezes: pela carência da vitamina D, de que a exposição ao sol o principal protetor, e pela tristeza do isolamento, causando menos defesa contra a infecção e mais propensão às complicações fatais da doença.

Governadores, prefeitos, e seus conselheiros de saúde, não se furtaram em se renderem à histeria coletiva, e em negligenciar a geral ignorância sobre o problema, e mesmo assim obrigaram violentamente as pessoas, especialmente os idosos, a se debilitarem ainda mais, e ao “sistema de saúde”, por prescrições mal-pensadas, tirando das pessoas, ao menos, a liberdade de procurarem, por caminhos próprios, encontrarem os melhores recursos para se protegerem!

Desprezaram a oportunidade de exposição ao vírus um período do ano em que o sol ainda se mostrava mais intenso, a cuja temperatura média mais elevada diminuiria a propagação e o dano das doenças virais.

Por outro lado, a imposição moral e violenta da privação prolongada do contato com filhos, netos e bisnetos; a imposição midiática e política do terror, principalmente sobre os idosos, de eventualmente se verem frente à morte na mais absoluta solidão; impuseram a muitos idosos a mais autêntica experiência do desespero, pavor, depressão, deterioro da qualidade da vida, desânimo, e emoções traumáticas das quais não esquecerão, ou nos perdoarão, tão facilmente.

Afinal, nem mesmo o condenado pelo mais grave crimes é privado do direito ao banho de sol e às visitas carinhosas.

Uma busca geral na grande plataforma internacional de artigos médicos científicos – a pubmed – não encontra nenhuma investigação científica que tenha avaliado a eficácia da imposição do isolamento social, e a tenha validado, como procedimento redutor de mortes ou sofrimento em relação à Covid-19, aos demais coronavirus ou a quaisquer outras pandemias em geral do passado!

Por outro lado, o resultado para a saúde do abandono, isolamento e exclusão social, foram sim objeto de estudo científico, e foram gatilhos da maior importância para o desencadeamento de quadros depressivos, rebaixamento da resistência imunológica às infecções, e agravamento da hiper-reatividade autoimune – justamente os mecanismos letais relacionados com a Covid-19!

Por outro lado, se tivéssemos provido – ou se ainda os provermos – aos cidadãos isolados, particularmente os idosos, doses enormes de vitamina D, para reduzir seu enfraquecimento e a autoimunidade face ao vírus pela privação da exposição ao Sol (o que não foi feito pelo poder público com a mesma “energia” das outras iniciativas que tomou), mesmo assim, os sentimentos de isolamento, exclusão e abandono social, a depressão, o impacto destes sobre o sistema imune, e até mesmo das tentativas de suicídio, dariam conta de manter muito mais elevados os níveis de adoecimento grave na população de risco, as demandas por UTIs e por respiradores e a mortalidade.

O apoio de algum médico às medidas de exclusão e isolamento impositivos, como modo de “proteção” às populações vulneráveis, não só não encontra base médico-científica que a justifique, mas tampouco fundamento Bioético, cujo primeiro princípio – “Primum Non Nocere” (antes de tudo não causar dano) – foi flagrantemente violado, física e psicologicamente!

O grave ataque aos direitos fundamentais do cidadão, sendo por lei, os idosos particularmente protegidos, mas, na prática, pelas políticas da pandemia, particularmente prejudicados, foi injustificável sob qualquer perspectiva, e mostra a inconformidade de muitas lideranças políticas e institucionais com as poucas liberdades que nossa constituição federal ainda garante ao cidadão face ao Estado.

É essencial refletir sobre estes fatos para que nunca mais, sob nenhum pretexto, voltem a acontecer. Mesmo nas inevitáveis pandemias futuras.

* O Dr. Sander Fridman é médico psiquiatra, ortomolecular e perito psiquiatra forense. Doutor pela UFRJ.

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