O marista canino

Zabanetta Noronha precisava terminar o curso ginasial. Restaria-lhe, em termos emergenciais, prestar exame pelo “Artigo 99”. Sem estudar, seria algo um tanto complicado… A solução fora convencer Vilfredes Barbosa a tomar o seu lugar e se submeter à prova que seria no Colégio Champagnat.

Com a foto do Fredes em cima daquela que constava na Carteira de Identidade de Zabanetta, prensaram o Contact, na época novidade, tornando perfeito o documento. Foi fácil para Vilfredes, após algum treino, imitar a assinatura do parceiro.

Ardil montado, foram às provas. Enquanto Barbosa prestava o teste, nervoso, Zabanetta Noronha aguardava no pátio do colégio. Eram duas provas por dia. Uma pela manhã, outra à tarde, envolvendo seis disciplinas.

O primeiro dia correra dentro do previsto. Porém, na manhã do segundo dia o inesperado acontecera. Vilfredes Barbosa saiu da prova pálido e atônito.

— Zabanetta, eu acho que fomos flagrados. Explico: agora, na sala de aula, como fiscal de provas, estava um irmão marista que foi meu regente no Colégio São Pedro, cujo apelido é Cachorrão. Ele me conhece, sabe meu nome. Ficou surpreso quando me viu na sala de aula. Quando entreguei a prova — eu vi! — procurou meu nome e deparou com o teu. Acho melhor a gente ir embora… Isso não vai acabar bem…

— Calma, ele não vai tomar nenhuma atitude. Raciocina: se o padre te conhece, por que iria criar caso contigo? Vamos aguardar e realizar a prova da tarde. Não vai haver problema…

E ali ficaram os dois, sentados na arquibancada do ginásio do colégio. Embora procurassem aparentar tranqüilidade, no fundo, estavam apavorados… Não demorou e, a ambos, dirigiu-se o irmão diretor do colégio:

— Vocês conhecem o Alírio Zabanetta Noronha? — o Cachorrão havia delatado!

— Não. Respondeu Barbosa, enquanto Zabanetta Noronha, pasmado, sequer se movia.

Sem fazer caso da resposta, continuou o irmão:

— De qualquer forma, digam que o exame feito por ele, hoje pela manhã e os de ontem, serão anulados.

Passado o recado, virou e se foi… Os dois ficaram parados, quietos, pareciam não saber o quê fazer.

— E agora? — indagou Barbosa.

— Vamos embora o quanto antes!

Os irmãos do Champagnat, em conclave, discutiram as hipóteses que poderiam se seguir: — a publicidade de um fato isolado, com certeza, seria péssima à imagem do colégio, colocando em risco o monopólio que o estabelecimento possuía para execução das provas, e prejudicaria aos demais alunos que concorriam ao diploma. O volume de dinheiro que o colégio em função dos exames arrecadava era significativo. Isso não poderia ser desprezado.

A congregação, provavelmente analisando todos esses motivos, não anulou os exames prestados por Zabanetta Noronha, ou melhor, por Barbosa. Habilmente, os irmãos deram zero às provas do infrator, que silenciou sem nunca reclamar da nota recebida.

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